quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Poema ao amigo que perdi

Era uma manhã nutrida quase fúlgida
Quando te visitei no ermo
E te vi com as pedras os braços e as âncoras
Enquanto enunciavas palavras sem eira nem beira
alcalinas e demoradas
Eras todo tu um mundo que já não existe
Um apelo ao terrunho às saudades de enxadas e alguidares
Eras um viajante dos sonos silentes
Eras caligrafia e gestos dissidentes
Eras uma flor sem água com a ampulheta e o passar das horas
Elegi-te o meu maior amigo
O que desvelava a minha espera o meu grito
Eras o refrão do meu cansaço da minha inquietação do meu ser aflito
Eras as consoantes de uma chávena de um pão de um atrito
Quando te partiste de mim
Amareleci e pendi para as cicatrizes de um marejar maldito
Reuni as dálias e os escaravelhos e aí por ora me agito

Autor : Cecília Barreira July 31, 2022
Imagem : Trini Schultz

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