terça-feira, 19 de novembro de 2024

As cidades Invisíveis


É o início das chuvas, o amor.

Encontramo-nos de acesos lábios,
mãos feridas de ruína,
e tremente solidão.

Passam fantasmas travestidos
de gente, – sombras, ilhas,
um breve par adolescente.

E todo o tempo é feito de cinza,
Outubro de um só dia
no céu da nossa vida.

São invisíveis, as cidades,
e até o anjo na hora de ponta
guarda seus olhos de nós:

Ninguém sabe, meu amor,
que só teu nome é uma ave
no final da minha voz.

Autor :João de Mancelos
In O Labor das Marés, Aveiro, Estante Editora, 1994.
Imagem : Saul Leiter

1 comentário:

brancas nuvens negras disse...

Estamos todos a viver na solidão embora tenhamos a ilusão do contrário.