domingo, 30 de março de 2014

Tempo

Christina-Nguyen

Em plena primavera
e em desesperado alvoroço
a chuva molha-me o corpo
na inquietude deste frio
e deste vento.

E eu nem sinto
ainda anestesiada
pelo calor do teu
arreigado no meu
e em mim.

Nem sei, ainda se o arrepio que sinto
a me percorrer as entranhas
é do tempo
se é da memória do teu corpo
em mim.

Em Lisboa o verão
tarda em chegar.
.
BeatriceMar

quinta-feira, 27 de março de 2014

...

António Macedo pintor
.
Carrego um armário de coisas
Apenas porque
(literalmente e iliteralmente)
Não me quero arrepender de deitar um vestido ao lixo
Quando encontrar os sapatos perfeitos para ele!
.
Autor : Teresa Poças
http://esculturadepalavras.blogspot.pt/

domingo, 23 de março de 2014

Procuro



Procuro, entre as estrelas.
Uma extensão para mim
Escolho o ir
Em voos sem obscuridade
Em silêncios na pele
Odores de frutos vermelhos
Respiro
Ainda a fundear
Em espaços de luz
E sons de permanecer

BeatriceMar 23-03-14

sexta-feira, 21 de março de 2014

Dia Mundial da Poesia

oleg oprisco

Tenho em mim  e nas minhas mãos,
um fogo,
que em labaredas,
lavra toda a poesia que existe,
no mundo,
e que se mantêm incólume.


BeatriceMar

domingo, 16 de março de 2014

Momentos efémeros


Ahmad Max


Os pingos de chuva encharcam a alvorada,
e a cidade, respira apática ao momento,
efémero.

Amarroto bem no fundo do meu peito,
esta solidão que ninguém quer,
nem eu.

Levanto a cortina,
e por entre os pingos ,
eu sou, e só, apenas um vulto.


BeatriceMar

quinta-feira, 13 de março de 2014

Volta...

Cyril ROLANDO
Já sei pouco...
Cada vez menos... um ou outro passo deste caminho cego, turbulento, espiral de anestésicos e alcool, substancias de controlo do descontrolo.

Sei cada vez menos de como perder...

Creio que me encontro agora tendo já tudo perdido, sobrevivente ao que foi, parte estragada de sonho e quimera, sou sombra, retrato desfocado, longinquo de mim mesmo.

Hoje de repente acordo e chamo o teu nome...

Esta noite persegue-me como um poema que é apenas a métrica sem poema nem vontades. Tenho mil ilusões... quando abro as mãos percebo todas elas uma por uma a levantar voo.

Para lá de mim, despeço-me de mim, encontro-me numa esquina que insisto em abandonar. Pergunto ao espelho "quem és tu" o ser do outro lado, queda-se imovel na minha posição que é a dele. É assim que vivo, imovel, quedo numa posição que não quero mas é minha e o outro lado do espelho sou eu.

Vem! Deixa que chore ao menos esta noite, perdido entre os estilhaços.

Abro a mão, tenho pouco a oferecer.

Sei pouco...

Sim, sei pouco, cada vez menos...

Sei que o céu tem estrelas que estão sempre lá, dia e noite. Sei um pais de inutilidades...

Sei...

Um medo de quem eramos apenas... volta...

Autor : Ar 31 de Novembro de 2006

terça-feira, 11 de março de 2014

Embora


Oleg Oprisco

Quando te fores embora,
fecha a porta devagar...
Não perturbes o meu sono...


Quero sonhar que estás
(ainda)
abraçado ao meu corpo….
.
Autor : Marta Vinhais http://escrevercomamor.blogspot.pt/

domingo, 9 de março de 2014

Às vezes voando com flores

Victoria Howell

Às vezes voando com um braçado de flores
lembro-me de ti, e de todas as coisas inexequíveis
que edifico em torno de memórias (antigas).

São apenas sonhos em que, ainda pinto
os locais por onde um dia andamos e
onde ainda recordo a música que tocava
do tempo que ficou entre os odores dos jacarandás.

O teu nome ainda  gira na minha boca
a querer trespassar o tempo,
e o eco que eu consigo manter
faiscante e sempre autêntico.
.
Autor : BeatriceMar 09-03-2014

quinta-feira, 6 de março de 2014

a faca não corta o fogo


Steve Goad


A faca não corta o fogo,
não me corta o sangue escrito,
não corta a água,
e quem não queria uma língua dentro da própria língua?
eu sim queria,
jogando linho com dedos, conjugando
onde os verbos não conjugam,
no mundo há poucos fenómenos do fogo,
água há pouca,
mas a língua, fia-se a gente dela por não ser como se queria,
mais brotada, inerente, incalculável,
e se a mão fia a estriga e a retoma do nada,
e a abre e fecha,
é que sim que eu a amava como bárbara maravilha,
porque no mundo há pouco fogo a cortar
e a água cortada é pouca,
¡que língua,
que húmida, muda, miúda, relativa, absoluta,
e que pouca, incrível, muita,
e la poésie, c'est quand le quotidien devient extraordinaire, e que música,
que despropósito, que língua língua,
disse Maurice Lefèvre, e como rebenta com a boca!
queria-a toda

.
Autor : Herberto Helder
in «Ofício Cantante»

terça-feira, 4 de março de 2014

....

Antonio Sgarossa


Dei-te o meu corpo como quem estende
um mapa antes de viagem, para que nele
descobrisses ilhas e paraísos e aí pousasses
os dedos devagar, como fazem as aves
quando encontram o verão. Se me tivesses

tocado, ter-me-ia desmanchado nos teus braços
como uma escarpa pronta a desabar, ou
uma cidade do litoral a definhar nas ondas.

Mas, afinal, foste tu que desenhaste mapas
nas minhas mãos - tristes geografias,
labirintos de razões improváveis, tão curtas
linhas que a minha vida não teve tempo
senão para pressentir-se. Por isso, guardo

dos teus gestos apenas conjecturas, sombras,
muros e regressos - nem sequer feridas
ou ruínas. E, ainda assim, sem eu saber porquê,
as ondas ameaçam o lago dos meus olhos.

Autor :  Maria do Rosário Pedreira

domingo, 2 de março de 2014

a saudade


a saudade não tem cor,
mas eu sei que o vento,
não leva nem a cor,
nem esta saudade de ti.
.
BeatriceMar