domingo, 31 de maio de 2015

recordação

Marina Yonn

não posso retroceder ao lugar dos desejos,
perdi-me no retorno, pelas ruelas,
e a claridade do sol, ofuscou-me a visão
que me deixou aturdida e cega de tudo.

apenas guardo para sempre,
o teu nome feito pássaro,
feito sonho realizado.
.
BeatriceMar 2014-08-24

(reeditado)

sábado, 30 de maio de 2015

...

Mariska Karto

Sempre soube que já não sabia de mim.
Sempre soube quem era o silêncio
Que ainda não sabia,
Que eu de mim, já me esquecia.
Sempre soube que o Amor podia ser um só
Sempre soube que o nada já podia ser
a tarde.
Essa que ainda não sabia,
Que eu de mim sempre me esquecia.
Mas sempre soube quando estou só
E
Sem mim
que,
Estou a viver no tempo que já me esqueci.


Autor : Sérgio Guerreiro

sexta-feira, 29 de maio de 2015

sim!


Arthur Braginski


sim!
foi porque te vi
que sonhei
e hoje
há um vento quente,
que preso ao peito
ameaça tempestade,
sempre que és
ausência nesse sonho.
sempre...


Autor © João Costa . 3.maio.2015

quinta-feira, 28 de maio de 2015

dentro da Vida

David Talley

Não estamos preparados para nada:
certamente que não para viver
Dentro da vida vamos escolher
o erro certo ou a certeza errada

Que nos redime dessa magoada
agitação do amor em que prazer
nem sempre é o que fica de querer
ser o amador e ser a coisa amada?

Porque ninguém nos salva de não ser
também de ser já nada nos resgata
Não estamos preparados para o nada:
certamente que não para morrer

Autor: Gastão Cruz

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Desencanto dos dias


Não era afinal isto que esperávamos
Não era este o dia
Que movimentos nos consente?
Ah ninguém sabe
como ainda és possível poesia
neste país onde nunca ninguém viu
aquele grande dia diferente

Autor : Ruy Belo

terça-feira, 26 de maio de 2015

A infância de Herberto Helder

Richard Bernabe


No princípio era a ilha
embora se diga
o Espírito de Deus
abraçava as águas

Nesse tempo
estendia-me na terra
para olhar as estrelas
e não pensava
que esses corpos de fogo
pudessem ser perigosos

Nesse tempo
marcava a latitude das estrelas
ordenando berlindes
sobre a erva

Não sabia que todo o poema
é um tumulto
que pode abalar
a ordem do universo agora
acredito

Eu era quase um anjo
e escrevia relatórios
precisos
acerca do silêncio

Nesse tempo
ainda era possível
encontrar Deus
pelos baldios

Isso foi antes
de aprender a álgebra

Autor: José Tolentino Mendonça

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Pela terceira vez



Pela terceira vez
saio à tua procura.

Procuro-te
nos sítios onde te encontrei até ontem:
nos bares do costume, nos terraços, dando um passeio de bicicleta.

Hoje é dia de festa,
chove pela primeira vez no verão.

Não encontro abrigo para a minha solidão.
Queria encontrar-te debaixo de todos os guarda-chuvas.
Queria abraçar-te debaixo das arcadas.

Tenho vertigens só de pensar que
estás em algum sítio onde não estou


Por Jon Benito

Tradução de Lp, do trapézio sem rede

sábado, 23 de maio de 2015

À conversa



nas nossas conversas parecia que tudo poderia ser reescrito.
elas tinham os contrastes do gosto dos morangos frescos
e o efeito de um analgésico de longa duração.

as nossas conversas uniam as noites aos dias com luz própria
e apagavam dos dias e das noites as sombras descabidas.
a linguagem deitava-se docemente para nos servir os sobressaltos
e os sossegos, que se alimentavam nos abraços e beijos
das palavras que tinham o mesmo sentido e sentimento.

nas nossas conversas trocávamos as horas e delas fazíamos desejos
tão humildes, mas onde cabia o mundo e havia sempre um caminho,
ainda que não se pudesse trilhar; ainda que o tivéssemos que corrigir.

não existiam pecados nas nossas conversas, tudo era salvação e horas
de suspiros, de arrepios, de respiração, de olhares e de inspiração.
eram maios de janelas abertas por todo e para todo o ano
e suponho que, não sei bem quanto e bem onde, ainda o são…


Autor : Henrique Caldeira dos Santos

sexta-feira, 22 de maio de 2015

...


Elena Yaschenko

No amor, somos todos meninos. Meninos, pequenos, pequeninos. Sentimo-nos coisas poucas perante a glória descarada de quem amamos. Quem ama não passa de um recém-nascido, que recém-nasce todos os dias.

Autor : Miguel Esteves Cardoso

quinta-feira, 21 de maio de 2015

...


Através dos passos alternados de perda e ganho,
silêncio e atividade, nascimento e morte,
eu trilho o caminho da imortalidade.


Autor : Deepak Chopra


quarta-feira, 20 de maio de 2015

Era longo o teu cabelo

Era longo o teu cabelo, como é a praia e o teu corpo que dança sempre sem ter hora.
Lembro-me de levar nos meus lábios o sabor dos teus em todas as tardes que eu apertava com tanta força para ser depressa outro dia… para ter outra vida. Tocava-te como quem toca Piano às escuras, porque sabe de cor o som de cada dedo. Assim sabia eu, cada canto do teu corpo esguio e a tua pele que me chamava sem pressa.
E mergulhava o meu olhar nos teus caracóis longos onde os meus dedos dançavam… sempre sem hora, assim como dança ainda o teu corpo na minha memória que não quer partir nem ir embora.
E um dia ficamos assim;
Com uma história e com um fim.

Autor : Sérgio Guerreiro

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O amor é essencial



O amor é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente.


Autor Fernando Pessoa

quarta-feira, 13 de maio de 2015

A velhice é um vento



A velhice é um vento que nos toma
no seu halo feliz de ensombramento.
E em nós depõe do que se deu à obra
somente o modo de não sentir o tempo,
senão no ritmo interior de a sombra
passar à transparência do momento.
Mas um momento de que baniram horas
o hábito e o jeito de estar vendo
para muito mais longe. Para de onde a obra
surde. E a velhice nos ilumina o vento.

Autor : Fernando Echevarría,
in "Figuras"

terça-feira, 12 de maio de 2015

Não o Sonho

Natália Drepina
Talvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
apenas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.

Manuel António Pina,
in "Atropelamento e Fuga"

domingo, 10 de maio de 2015

ontem

 Haleigh Walswort
.
ontem, tudo era cinzento,
mas a luz dos teus olhos,
iluminou todo o dia.
.
BeatriceMar 26-05-2014

sexta-feira, 8 de maio de 2015

...

David Talley


Não haverá melhor
Tempo,
que o tempo que tenho para te Amar.

E embora,
Todo o tempo que o tempo me dá,
seja pouco para te Amar,
dou –te todo o meu tempo e tudo o que é de mim.

É isto o que faço com o tempo.

Querer ser teu ,

Até ao fim.

Autor: Sérgio Guerreiro

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O Amor é o Elixir da Juventude


O amor é um poema. Dói e canta cá dentro. Tem a filosofia das árvores, a lição do mar, os ensinamentos que as aves recolhem quando migram para lá dos desertos, de onde hão-de regressar mais sábias e seguras. O amor é uma causa. Uma luta excessiva com a divindade dos dias e a sua fogueira obscura. Mas também contra o mistério de si mesmo, uma paz que nos dá o cansaço e a loucura infeliz da felicidade, esse primitivo terror dos sinos que tocam como um aviso aos densos nevoeiros súbitos do mar.

O amor é uma casa. Erguida com os beijos, com os versos da noite e o gemido das estrelas. Casa cujas paredes vestem o nosso júbilo, a nossa intuição, a nossa vontade, sobretudo o nosso instinto e a nossa sabedoria. Onde se acende e brilha a luz suplicante da pele comprometida dos amantes. O amor é um gigantesco pequeno mistério, uma estranha generosidade que faz com que, quanto mais damos, com mais ficamos para dar.

Só o amor é o elixir da juventude. Não esse que sempre se procurou nas indecifráveis formulas dos antigos livros de magia e de alquimia, mas aquele que está tão perto de nós que, por vezes, o pisamos sem reparar.

Autor : Joaquim Pessoa
in 'Guardar o Fogo'

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Adeus


Sim, vou partir.
E não levo saudade
De ninguém
Nem em ti penso agora!
Julgavas que a tristeza desta hora
Fosse maior que a firme vontade
Que eu pus em destruir
O luminoso fio de ternura
Que me prendia ao teu olhar?
Julgaste mal:
Eu sei amar,
Mas meu amor
O que eu não sei
É ser banal!

Mas por que vim eu escrever-te ainda?
Nem eu sei!
Talvez somente
O hábito cortês da despedida
- e o hábito faz lei!

Choro?! Oh, sim , perdidamente!
Mas sabes tu, por que este pranto
Assim amargo e soluçado vem?
É que na hora da partida
Eu nunca pude sem chorar
Dizer adeus a ninguém!

Autor : Judith Teixeira,
in 'Antologia Poética'

terça-feira, 5 de maio de 2015

Morangos



No começo do amor, quando as cidades
nos eram desconhecidas, de que nos serviria
a certeza da morte se podíamos correr
de ponta a ponta a veia eléctrica da noite
e acabar na praia a comer morangos
ao amanhecer? Diziam-nos que tínhamos

a vida inteira pela frente. Mas, amigos,
como pudemos pensar que seria assim
para sempre? Ou que a música e o desejo
nos conduziriam de estação em estação
até ao pleno futuro que julgávamos

merecer? Afinal, o futuro era isto.
Não estamos mais sábios, não temos
melhores razões. Na viagem necessária
para o escuro, o amor é um passageiro
ocasional e difícil. E a partir de certa altura
todas as cidades se parecem.

Autor : Rui Pires Cabral,
 in 'Longe da Aldeia'

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sempre soube

TJ Scott

Sempre soube que já não sabia de mim.
Sempre soube quem era o silêncio
Que ainda não sabia,
Que eu de mim, já me esquecia.
Sempre soube que o Amor podia ser um só
Sempre soube que o nada já podia ser
a tarde.
Essa que ainda não sabia,
Que eu de mim sempre me esquecia.
Mas sempre soube quando estou só
E Sem mim
que,
Estou a viver no tempo que já me esqueci.


Autor : Sérgio Guerreiro

domingo, 3 de maio de 2015

Ó mãe


Gustav Klimt

Ó mãe, regressa a mim. Embala-me no tempo em que os teus lábios rebentavam de ternura. Ó mãe, ó minha mãe, ó rio de água pura, correndo pelas veias. Pelo vento.

Ó mãe, que és mãe de Deus, que és mãe de mim e mãe de Antero e de Camões, e mãe de quem lhe faltam as palavras como se faltasse o ar. E são assim uma espécie de filhos de ninguém. Abre o teu ventre, mãe. Acorda. Vem parir-me. E vem sofrer a minha dor uma vez mais. Morrer de amor por mim. Vem impedir-me o medo. Ensinar-me a amar a luz dos animais.

Ó mãe, ó minha mãe. Ó pátria. Ó minha pena. Que me pariste, assim, temperamental. Mãe de Ulisses, de Guevara e mãe de Helena. E mãe da minha dor universal.

Autor : Joaquim Pessoa,
in 'Ano Comum'

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O vermelho e o trigo




No fundo da terra há sempre
Um húmus insuspeito, uma semente, uma promessa...

Talvez um parto...

Talvez um grito,
Ou uma dor por abrir...

Talvez uma tensão na hora de soltar-se...

Há sempre na noite
Um dia imprevisível, uma esperança calada...

Há sempre uma morte que se faz vida...

Há sempre o vermelho e o trigo...

Sabe-se lá quando pode explodir uma flor...

Autor : heretico
In : http://relogiodependulo.blogspot.pt/