domingo, 29 de maio de 2022

Até já

Porque todos precisamos de Férias

Quero informar os meus caros Amigos e Leitores que farei uma breve pausa nas postagens neste espaço onde me sinto muito confortável a apresentar fotos e poemas do meu agrado e que acho também do vosso.

Sei que, os comentários não são em conformidade com o histórico de visitas.

Mas ao saber que as visitas são muitas, isso me deixa muito satisfeita.

Voltarei em breve!

Obrigada e voltem sempre, eu agradeço!

Imagem : Annegien Schilling

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Sitiados

Esta cidade é a última cidade...
Os muros derruídos estão cercados:
Os canhões troam através dos mapas.

Nossa imagem, revelada pelas montras,
Passeia pelas ruas de mãos dadas...
Somos a última trincheira valiosa.

Unidos, trituramos os assaltos
E renovamos o cristal da esperança.

Os ruídos emolduram-te o sorriso,
Pura mensagem, prenhe de um futuro
Isolado de poeiras e de lágrimas.

Autor : Egipto Gonçalves
Imagem : Richard Davis

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Fiz um conto para me embalar

 

Fiz com as fadas uma aliança.
A deste conto nunca contar.
Mas como ainda sou criança
Quero a mim própria embalar.

Estavam na praia três donzelas
Como três laranjas num pomar.
Nenhuma sabia para qual delas
Cantava o príncipe do mar.

Rosas fatais, as três donzelas
A mão de espuma as desfolhou.
Nenhum soube para qual delas
O príncipe do mar cantou.

Autor : Natália Correia
Imagem : Sherree Valentine Dains

terça-feira, 24 de maio de 2022

Vivi nesta casa muitos anos

 

Agora mudaram já de certo a fechadura
e as pequenas coisas que fazem uma casa.
As chaves já não as trago
ao lado dos meus gestos.

Mudaram os móveis
deitaram fora as cortinas
e as paredes
trazem agora um calendário novo.

Uma casa é sempre
caliça cheiros alianças.
Eu avanço sobre o silêncio de
ainda esperar por ti.

Autor : João Miguel Fernandes Jorge
Imagem : Andrew Wyeth

domingo, 22 de maio de 2022

Entardecer

 

Se eu soubesse decifrar,
as curvas na linha do tempo,
acredita que estaria contigo,
na outra margem,
a olhar o rio,
que se confunde com o mar.

Mas eu não sei o que não preciso saber,
nem procuro,
o que o destino levou.

Apenas fico aquém a olhar,
o horizonte,
e a desfazer ilusões que se desmoronam,
ao entardecer.

Beatrice 2022.05-21
Imagem : Viktoria Haack

sábado, 21 de maio de 2022

Ergo uma rosa

 

Ergo uma rosa, e tudo se ilumina
Como a lua não faz nem o sol pode:
Cobra de luz ardente e enroscada
Ou ventos de cabelos que sacode.
Ergo uma rosa, e grito a quantas aves
O céu pontua de ninhos e de cantos,
Bato no chão a ordem que decide
A união dos demos e dos santos.
Ergo uma rosa, um corpo e um destino
Contra o frio da noite que se atreve,
E da seiva da rosa e do meu sangue
Construo perenidade em vida breve.
Ergo uma rosa, e deixo, e abandono
Quanto me doi de mágoas e assombros.
Ergo uma rosa, sim, e ouço a vida
Neste cantar das aves nos meus ombros.

Autor : José Saramago
Imagem : Andrea Kiss

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Mulheres à Beira-Mar

 

Confundido os seus cabelos com os cabelos
do vento, têm o corpo feliz de ser tão seu e
tão denso em plena liberdade.

Lançam os braços pela praia fora e a brancura
dos seus pulsos penetra nas espumas.

Passam aves de asas agudas e a curva dos seus
olhos prolonga o interminável rastro no céu
branco.

Com a boca colada ao horizonte aspiram longa
mente a virgindade de um mundo que nasceu.

O extremo dos seus dedos toca o cimo de
delícia e vertigem onde o ar acaba e começa.

E aos seus ombros cola-se uma alga, feliz de
ser tão verde.

Autor : Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem: David Talley

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Os Poetas

 

Nunca os vistes
Sentados nos cafés que há na cidade,
Um livro aberto sobre a mesa e tristes,
Incógnitos, sem oiro e sem idade?

Com magros dedos, coroando a fronte,
Sugerem o nostálgico sentido
De quem rasgasse um pouco de horizonte
Proibido...

Fingem de reis da Terra e do Oceano
(E filhos são legítimos do vício!)
Tudo o que neles nos pareça humano
É fogo de artifício.

Por vezes, fecham-lhes as portas
— Ódio que a nada se resume —
Voltam, depois, a horas mortas,
Sem um queixume.

E mostram sempre novos laivos
De poesia em seu olhar...

Adolescentes! Afastai-vos
Quando algum deles vos fitar!

Autor : Pedro Homem de Mello,
 in "O Rapaz da Camisola Verde"

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Casulo


Abrem-se para o mundo
na rara manhã
ainda intactas
asas em suspenso

((vão devagar))

na quietude ausente
das nuvens que passam
um anjo nasce

Autor : Solange Firmino
In Quando a dor acabar

domingo, 15 de maio de 2022

Até sempre meu amor

Eu volto amanhã,
e depois de amanha à porta do futuro,
e entro no local onde fomos felizes.

Todos os dias eu tomo a mesma coisa,
os funcionários já nem perguntam,
colocam na mesa onde me sento (sempre a mesma)
um café forte, e um sumo de laranja.

Tu não bebias café
Não gostavas

Mas eu imagino que um dia entras,
para beberes o sumo de laranja,
que todos os dias eu bebo por ti.

Até sempre meu amor!
 
Autor : BeatriceM 2022-05-14
Imagem :Tina Spratt

sábado, 14 de maio de 2022

depois das 7

Depois das 7
as montras são mais íntimas

A vergonha de não comprar
não existe
e a tristeza de não ter
é só nossa

E a luz torna mais belo
e mais útil
cada objecto

Autor : António Reis, in 'Poemas Quotidianos'

sexta-feira, 13 de maio de 2022

 

Diz só o silêncio
um gesto
um beijo
que as palavras
estão nuas de sentido
envoltas no burel
dos sonhos.

Autor : Maria Helena Ventura
In Quando o Silêncio Falar
Imagem : Magdalena Lutek

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Renascimento

Quando tudo te parece perdido
escuta a vida
o silêncio da vida murmurando —
poderei sorver minha seiva
sob o áspero pó das ruínas

Autor : José Paulo Moreira da Fonseca
Imagem : Mira Nedyalkova

quarta-feira, 11 de maio de 2022

peito

Todos querem saber se os meus
lábios ainda estão cheios dos teus
beijos, se as minhas mãos se abrem
ainda para as tuas nos passeios de

verão. Mil olhos me perguntam se
este corpo que vêem agora assim
amarrotado continua a receber-te

na cama, antes do sono, quando o
pano azul-escuro da noite cai sobre
o mundo e o vento leva as estrelas
para longe de casa. Não lhes conto:

o que há no meu peito é entre nós.
-
Autor : Maria do Rosário Pedreira
O Meu Corpo Humano
Editor: Quetzal Editores Edição: abril de 2022
Imagem : Omar Ortiz

terça-feira, 10 de maio de 2022

Epílogo


 

Acendo um círio terminado o ciclo
da rosa rotativa ao rés do rosto:
ilumino a expressão do que, profundo,
intento, à luz rufa do crepúsculo:
apenas o diário dum recluso
em liberdade na prisão do mundo.

Autor : António Barahona
Imagem : Olga Domanova

domingo, 8 de maio de 2022

que importa?


que importa?
se o meu coraçao, ainda
te quer dar amor,
na forma de uma flor..

Autor : BeatriceM 30-04-2014
Imagem :Andrea Kiss

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Anda menina

Vai, menina, fecha os olhos .
Solta os cabelos.
Joga a vida.
Como quem não tem o que perder.
Como quem aposta.
Como quem brinca . Vai, menina
Molha os pés na poça . Mergulha no que te dá vontade.
Abraça o que te faz sorrir .Sonha .
Não espere. Promessas vão e vem.
Planos se desfazem.
Regras, você dita. Palavras o vento leva
Distância só existe para quem quer.
Sonhos se realizam, Ou não.
Os olhos se fecham, um dia ,para sempre.
Sabia?
E o que importa
só você sabe, menina .

Autor : Caio Fernando Abreu
Imagem : Monika Luniak

quinta-feira, 5 de maio de 2022

um olhar


um olhar a partir do esgoto
pode ser uma visão do mundo

a rebelião consiste em olhar uma rosa
até pulverizar os olhos

Autor : Alejandra Pizarnik
em 30 Poemas,tradução e selecção de Inês Dias e Manuel de Freitas, Lisboa: Língua Morta, 1ª edição, 2011, p. 22.

terça-feira, 3 de maio de 2022

(...)

(...) desculpa
o que te queria dizer talvez não fosse isto
a solidão turva-se-me de lágrimas
e nas pálpebras tremem visões do meu delírio
olho as fotografias de antigos desertos
corpos coerentes que fomos
bocas de papel amarelecido
onde a sede nunca encontrou a sua água
e às vezes ainda tenho sede de ti.

Autor :Al Berto
Imagem: Vinicus Vieira

domingo, 1 de maio de 2022

os dias acontecem

os dias acontecem,
por vezes céleres demais
por vezes desleixados também
(tenho uma lágrima que não cai)
tenho uma saudade que não se esvai
tenho nada e por vezes o nada é tanto
é excessivo para mim
tenho esta obsessão por fronteiras
por mares e barcos que não velejam
que se fazem ao porto
e nunca abalam
tenho um olhar que engendro nos dias
e nas noites
tenho indefinidamente
as vigílias
que nunca se destroem
e tenho os dias
que circulam (ainda) em mim.
.
Autor :BeatriceMar 21-04-2013
Imagem : Nikolay Tikhomirov