sexta-feira, 30 de abril de 2021

...


Carrega-me contigo, Pássaro-Poesia
Quando cruzares o Amanhã, a luz, o impossível
Porque de barro e palha tem sido esta viagem
Que faço a sós comigo. Isenta de traçado
Ou de complicada geografia, sem nenhuma bagagem
Hei de levar apenas a vertigem e a fé:
Para teu corpo de luz, dois fardos breves.
Deixarei palavras e cantigas. E movediças
Embaçadas vias de Ilusão.
Não cantei cotidianos. Só te cantei a ti
Pássaro-Poesia
E a paisagem-limite: o fosso, o extremo
A convulsão do Homem.
Carrega-me contigo.
No amanhã.

Autor : Hilda Hilst
Imagem : Angel Kyoss

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Pelo sonho é que vamos


Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?

Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos,
basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

─ Partimos. Vamos. Somos.

Autor : Sebastião da Gama

quarta-feira, 28 de abril de 2021

....

Começávamos o dia por baixo
pelo tempo da pedra. A escarpa muscular
onde ia gastando os teus sapatos.
Manhãs compridas que chegavam ao mar.
Trazíamos as letras inclinadas trazíamos
na ponta da língua o nome dos naufrágios
e estávamos à mesa como um corpo de baile.
Uma subsistência sonora era esse
o estado da arte: éramos as claves do sul
de lábios estendidos à medida das máscaras.
Eu ia de rastilho, de árvore acesa. Ia iluminando a mão
com que batias no fundo. Traçava as águas
juntava as pernas para as covas do teu dente.
Passavam orlas e orlas e nós naquela descoberta
naquela terra toda à vista brincando ao verão
aos redemoinhos na chávena.

Autor : Catarina Nunes de Almeida

terça-feira, 27 de abril de 2021

Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

Autor : Mário Quintana

domingo, 25 de abril de 2021

Dia da Liberdade

 


Foi uma revolução sem sangue nem armas,
no gesto da liberdade.

A simbolizar o dia, uma flor foi posta
no cano de uma espingarda.

Um cravo vermelho de sangue
Mas sem sangue derramado

Muito tempo já se passou
E nem tudo aconteceu

Mas muita coisa mudou
No tempo e e em todos nós

Autor : Beatrice 2021-04-25

sábado, 24 de abril de 2021

Eu Sou Português Aqui

 

Eu sou português
aqui
em terra e fome talhado
feito de barro e carvão
rasgado pelo vento norte
amante certo da morte
no silêncio da agressão.

Eu sou português
aqui
mas nascido deste lado
do lado de cá da vida
do lado do sofrimento
da miséria repetida
do pé descalço
do vento.

Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.

Eu sou português
aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil
no gozo
no sorriso doloroso
no gingar dum marinheiro.

Nasci
deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura
da anedota
do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.

Eu sou português
aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.

Nasci
aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.

Nasci
aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.
Eu sou a festa
inacabada
quase ausente
eu sou a briga
a luta antiga
renovada
ainda urgente.

Eu sou português
aqui
o português sem mestre
mas com jeito.
Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito.

Autor : José Fanha
Foto: José Sena Goulão,

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Longa é a noite

Quando me vou embora
não sei. Peço-te
só um murmúrio
mostra-me o rosto.

Quando me vou embora
a infância foge.
Aquela última vez
à procura do fim.

Peço-te
só um murmúrio
mostra-me o rosto
fala-me de suicídio
para que possa chorar.
.
Autor : Isabel de Sá In O real arrasa tudo
Imagem : Magdalena Russocka

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Pelo silêncio

 

Pelo silêncio na planície pela tranquilidade em tua voz
pelos teus olhos verdes estelares pelo teu corpo líquido de bruma
pelo direito de seguir de mão dadas na solidão nocturna
lutaremos meu Amor

Pela infância que fomos pelo jardim escondido que não teve o nosso amor
pelo pão que nos recusam pela liberdade sem fronteiras
pelas manhãs de sol sem mácula de grades
lutaremos meu Amor

Pela dádiva mútua da nossa carne mártir
pela alegria em teu sorriso claro pelo teu sonho imaterial
pela cidade escravizada pela doçura de um beijo à despedida
lutaremos meu Amor

Pelos meninos tristes suburbanos
contra o peso da angústia contra o medo
contra a seta de fogo traiçoeira cravada
em nosso doce coração aberto
lutaremos meu Amor

Na aparência sozinhos multidão na verdade
lutaremos meu Amor

Autor : Daniel Filipe
In : A Invenção do Amor e Outros Poemas,
Imagem :Brian Oldham

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Entardecer

 

O guarda-sol, parado, já não guarda o sol que retarda
E eu, cansada de nada, fujo dos raios a cada quarto d'hora
Atrevendo-me a ponderar empurrá-lo da próxima vez
Em que o sol balance no azul e saia fora do pano!
Peço desculpa, amigos, pelo meu ato egoísta
Mas, acabando com a mística,
Lembro-vos de que o sol não balança,
Nem a tarde cai,
Nem seria possível eu fugir
De algo que não avança!
É o guarda-sol, aquele que se faz de parado,
Que foge a cada quarto d'hora,
E eu, sem saber qual o sentido errado,
Já não mais tenho alma
Para o empurrar contra a gravidade!

Dei por mim a entardecer.

Autor : Teresa Poças (http://esculturadepalavras.blogspot.com/)
Imagem : M&D SZUPINAPHOTOGRAPHY

terça-feira, 20 de abril de 2021

O pássaro azul

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros na
Europa?

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.

depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim

com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?

Autor : Charles Bukowski
(Tradução: Paulo Gonzaga)

domingo, 18 de abril de 2021

SMS



Foi apenas mais um dia. Releio a tua sms
desço aos infernos de mim
e enrolo um cigarro, sabendo
que me faz mal, assim como tu.

Engano-me e partilho a nicotina que me
polui os pulmões, me faz esquecer ilusões,
enquanto faço círculos de fumo.
Inalo lentamente e sinto-me tonta.

Lá fora o sol espreita, morno,
o mar está calmo, ao contrário de mim
que estou num turbilhão de marés.

Onde estou, eu, que não sinto
a vida, onde estás tu, que ainda
me mandas sms.
.
Autor : BeatriceM 14-04-2013

sábado, 17 de abril de 2021

Tua mão

Numa tarde de Verão,
quando a angustia
me tomava
e a dor me prendia,
toquei tua mão.
…achei-te
…perdi-me
…encontrei-me
Encontrei em tua mão
a alegria de ver
…nova ilusão,
por outra vida viver
…outra razão,
sem o sonho perder,
numa tarde de Verão
encontrei tua mão.

 
Autor : Silvestre Raposo
Imagem: Rachel Baran

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Madrugada

 

Madrugada..
Vou
aos poucos
mergulhando
em mim..
Sonho
sonhos tão loucos
vejo
você flutuando
desnuda
tão pura
que extasiado
velando seu sono
deixo
na noite
você
escapar
e
de repente
....
fugir de mim.
.
Autor : joanna.franko

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Quando vier a Primavera,


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Autor : Alberto Caeiro

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Desculpa meu amor

 

Fogem-me as palavras que usaria nesta folha para te falar de amo.
 Talvez, no fundo, as palavras nunca tenham
existido, talvez não passem de invenções delicadas que o
amor nos oferece a cada intervalo de silêncio – desculpa

meu amor não ter nascido com o dom de tecer as palavras certas
para construir poemas que te enobreçam a alma,
ou que te aliviem o cansaço dos olhos, pois isso, já outros o fizeram;
os poetas abandonados à leveza das penas que trouxeram ao papel

todas as dores do mundo e mais as nossas. Desculpa meu amor,
mas as palavras teimam em debandar-se e não sei se voltarão depois,
suspeito que o amor não se escreva hoje como outros o escreveram, e,
por assim ser, o gastaram como gastamos nós todas as páginas em branco

que teimosamente desejamos escritas.

Autor  : Carla Pais

terça-feira, 13 de abril de 2021

O Olhar de Ver

 


Em tudo o que tu vês eu moro aí,
em tudo o meu olhar a ti só vê -
conforto de presença tão contínuo
que não sabe onde surge onde termina
dentro do modo o tempo deste ver.

Nem eu alcanço outro horizonte além,
nem tu aqui outra maior distância -
e os olhos bem juntinhos não se lembram
de sentirem em si diverso alento
que não seja - a tremerem - a constância.

Por isso como um lanço os nossos corpos
ignoram qualquer 'spaço que os separe -
muito encostados poros sobre poros
olham apenas o prazer que é nosso
com mais desejo encima até fartarem.

Autor : António Salvado
 in O Sol de Psara 

domingo, 11 de abril de 2021

Um aroma

 Um aroma em tarde de chuva, entrou-me suave e delicado nas narinas e abraçou-me como quem enlaça a cidade.


Vinha de alguém, que nem me via e nem sabia de mim e da minha existência.

Mas enviou-me um sorriso anónimo, e seguiu debaixo da chuva, apressado e fugaz.

Talvez e só por isso, hoje, peguei nos pincéis e dissolvi aguarelas e vou fantasiar um sonho que é apenas um aroma que se infestou em mim e que me recordou outro aroma.

.
Autor : BeatriceM 2013-04-06
Imagem: Maja Wrońska.

sábado, 10 de abril de 2021

Quatro e meia da manhã


os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre

quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro e dirão:
“ele tá bêbado de novo”,
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo e
como algo esfaqueado
e cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.

Autor : Charles Bukowski
(Tradução: Jorge Wanderley)
Imagem -Ane Sctollin

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Os Meus Melhores Desejos






Que a vida te pareça suportável.
Que a culpa não afogue a esperança.
Que não te rendas nunca.
Que o caminho que sigas seja sempre escolhido
entre dois pelo menos.
Que te interesse a vida tanto com tu a ela.
Que não te apanhe o vício
de prolongar as despedidas.
E que o peso da terra seja leve
sobre os teus pobres ossos.
Que a tua recordação ponha lágrimas nos olhos
de quem nunca te disse que te amava.

Autor : Amália Bautista
Imagem : Saul Landell

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Em ti

 

Em ti o chão exausto de meu desejo. A flor aberta
dos sentidos. A calidez do lume. A água. O vinho.
O sangue a estuar em fúria. O grito do sol
que em transe de labareda fulge e irradia.
A extensão de tantos vales
e colinas. Fragrantes. Infinitas.
Os pomos saborosos, repartidos.
Os gomos. Os sumos ardorosos.
Os bosques impregnados de maresia.
A placidez molhada das ervas.
O luzir loiro das searas pelo vento devastadas.
O estio. O seu zénite. A sua vertigem.

Em ti a inclinação dos ramos. A tranlucidez do verde.
O derrame da seiva. O estremecer das raízes.
O musgo despontando. O aveludado dos troncos.
Os álamos. Os plátanos. E outras núbeis melodias.
O espreguiçar incandescente dos rios.
O êxtase das aves altas anunciando o fervor
de um beijo. De um afago. De uma carícia.
O hálito das corolas. As sépalas. Os estames.
O brilho e o odor silvestre da resina. A relva sedosa.
A primavera inebriada com sua própria brisa.

Em ti o menear da terra. As eiras. O feno flamante.
O irromper dos brotos. O despertar dos cálices.
A embriaguez do nardo. E da acácia, festiva.
O matiz das cores na várzea repercutido.
O som dos mananciais posto a descoberto.
O manar das fontes em euforia.
Os céus azuis a derramarem hinos.
O trinado agudo da andorinha.
O acenar obstinado dos choupos.
As centelhas rubras do crepúsculo.
O perfume juvenil das vinhas.

Em ti o delírio das ondas. Das espumas.
As fogueiras ateadas. Os aromas fulvos.
O sopro das chamas. O pão aceso. As espigas.
Os campos de lilases que se estendem
numa queimadura de aurora.
As pétalas humedecidas.
O incêndio azul do orvalho.
A alvura da açucena na manhã florida.

Em ti, amada, celebro a memória de todas as coisas vivas.

Autor : Gonçalo Salvado in " Ardentia "

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Quando

 

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.
Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.
Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Autor: Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem Brian Oldham

terça-feira, 6 de abril de 2021

A Noite


Um verso
como a lâmina
um gesto
como o vento
uma palavra
como o silêncio
um rosto
como o horizonte
um olhar
como um relâmpago
para iluminar
a noite

Autor : Rui Esteves

domingo, 4 de abril de 2021

Felizes Pãscoas


Hoje dia de Pãscoa, é dia de renascimento é dia de constante caminhada em nossas vidas.

Para todos os meus amigos, seguidores e leitores, desejo que tenham uma:

Páscoa Feliz!

sábado, 3 de abril de 2021

Poema


Tu estás em mim como eu estive no berço
como a árvore sob a sua crosta
como o navio no fundo do mar

Autor : MárioCesariny
Imagem: Katerina Plotnikova

sexta-feira, 2 de abril de 2021

...



 Sinto-me subitamente ferida, agastada. Não seria assim tão subitamente... Mas, enfim, uma bagatela, uma pinga a mais no vaso cheio fá-lo transbordar: dá corpo e força às minhas velhas fantasias de revolta...

  Mas a minha revolta é calma, calada, fica só comigo. Entretenho-me com pensamentos mais crus e concretos que os meus habituais, quase sempre flutuantes e desinteressados. Mais nada. Mas aos poucos sereno.

  Não, ninguém me quis molestar! Todo o meu mal é apenas de situação, um mal de acaso. É um mal sem consciência, o mal da miséria; absolutamente incerto, inocente e irresponsável. E por tudo isto vou readquirindo o meu ar distraído e indiferente. Filosófico.

  Mas a minha indiferença, fruto de uma vida anormal, desaproveitada, não consegue amortecer de todo uma certa curiosidade, um distractivo apetite de me confundir com os que me cercam, e de os julgar. Não consegue!

  E assim, vegetando tranquilamente quase a um canto, pressinto ou noto que todas as criaturas se encobrem e se defendem das suas próximas! Que nós, afinal, somos como as coisas ou como os detritos do mar: chocamo-nos e apartamo-nos continuamente, vivemos num puro, permanente jogo de escondias...

  Cada ser que vive é um mistério! A sua rota é obscura e sinuosa, sempre complicada...

Autor: Irene Lisboa 
In Obras de Irene Lisboa, Volume II - Solidão. 
Imagem : Katie Eleonor

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Insónia

 


o corpo cai em desmaio na areia da noite
há um frio liquido na linha da quietude
e este tropeçar em queda
mesmo que as horas nos chamem o sono
é violento para o que esperávamos do destino
a madrugada é prenhe de ti nesta ausência
revolvo o corpo nesta praia de jejum
há guerras e incêndios nos olhares em redor
quando convulso a respiração em teu choro
e mordo as últimas letras do teu nome

Autor : Fernando Dinis 6.7.06
http://antologiadoesquecimento.blogspot.com/
Imagem: Saul Landell