terça-feira, 27 de setembro de 2022

De um só trago

De todas as maneiras que a solidão
escolhe para nos derrotar
nenhuma tão lenta e cruel
como a que nos faz acreditar
de novo no amor, ao mesmo tempo
que nos retira as forças para injuriá-lo
quando as promessas se revelam vãs
e percebemos que a chama que nos alenta
é a mesma que nos extingue.

E de nada serve pelos restantes dias
mostrarmo-nos compassivos
de nós mesmos, com a certeza de que
em todas as praças há um corpo apedrejado,
em todas as casas uma janela opaca,
em todos os quartos uma boca sem voz,
em todas as palavras a lembrança de outras
mais amadas e que um dia nos pertencerão.

A dor deve ser bebida em silêncio
de um só trago, ao balcão de um bar,
depois de todos haverem já partido.

Autor : Jorge Gomes Miranda
Imagem :Fabian Perez

2 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Intenso e sentido poema. Adorei ler!!
-
Queria viver simplesmente na ilusão...

Beijos
Uma excelente semana!

Pintor de Palavras disse...

E é no silêncio que bebemos a solidão