Perdi-me
por amor,
fui aquele
que procurava a casa do coração e
a luz, mas
agora,
prisioneiro
da bruma, junto ao altar,
penso
nas manhãs
em que voava para longe,
ao lado
dos irmãos.
Penso em
quase todas as flores que vi nos
canteiros
do céu,
penso nas
mãos que estendiam as formas do
centeio e
do trigo
para a
minha boca.
E os meus
olhos que viram os deslumbrantes
cristais
do mundo
baixaram
as suas pálpebras sobre a noite da
terra,
sobre os
sepulcros abertos.
Não sei
onde sepultarão os meus ossos,
onde
soltarão ao vento as minhas cinzas.
Sei apenas
que perdurarei no murmúrio dos
teus
lábios
e nas
pedras onde me sentei e chorei.
Pouco
tempo me resta para contar aos filhos
que não
tive
o
fulminante desejo das viagens.
E hoje,
entre
estas quatro paredes de cal mutilada,
quando
chove por dentro, para sempre,
só te
posso dizer adeus.
Autor : José
Agostinho Baptista,
'Esta voz
é quase o vento'
Imagem: adam andrearczyk (alcove)
1 comentário:
É nas pedras em que nos sentamos que recuperamos as forças para a caminhada...
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