quinta-feira, 25 de novembro de 2021

PLÁTANOS



Depois de ter fechado tudo, abro de novo a porta
e corro, cambaleante, para a vazia escuridão
assusta-me a certas horas a companhia
do que não adormece
a resistência disso
que permanece no nosso espaço
movido por outras forças

Mas também acontece acender primeiro a luz
e só depois sentir um medo louco da casa que me acolhe
dos seus redemoinhos imperceptíveis
que julgo cada vez mais perto
como se estivesse para ser morto
às mãos do próprio Deus

Não sei bem acordar vivo destas coisas:
por vezes aproveito o ruído do entardecer e grito muito alto
ou deixo-te um instante só (um instante só)
para fechar os olhos que tanto ardem
ou atiro das margens folhas ao rio
para medir o tempo de uma vida
a naufragar

Autor  :José Tolentino Mendonça

3 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

O poema é lindíssimo. Mas a foto é de uma (triste) beleza que emociona só de a olhar.
.
Abraço e/ou beijinho.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos

brancas nuvens negras disse...

As penas de quem está sozinho.

Cidália Ferreira disse...

Um poema de sentimentos intensos. Adorei :))
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Existem silêncios que atropelam ...
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Beijo e uma excelente tarde :)