sábado, 24 de outubro de 2020

Jamais tive eu amor senão por ti


Jamais tive eu amor senão por ti.
Paixões o vento as trouxe e as levou
Qual ave migratória que pousou
Em temporário ninho onde vivi. 

Amor, porém, é ave que povoa
O coração da gente e nele exulta
E ocupa de outra ave mais estulta
O coração partido e o perdoa. 

Mas que fazer, se amor o dei ao vento
E sinto o coração ninho vazio
E sinto um grão calor e grande frio 

E amo em oração no meu convento?
Eu amo quem amei e me deixou;
Não amo quem pousou — só quem voou.

Autor :Daniel Jonas
Imagem : 

Nota : Neste seu mais recente livro de poesia Daniel Jonas regressa ao soneto, num livro desconcertante e surpreendente. Como nos diz o poeta, «Assim no meu soneto aqui gravei / Quem não sou nem fui e menos serei.»

2 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Uau. Poema muito bonito!! :))
**
O presente e um futuro...num passado
-
Beijos, e um excelente fim de semana.

brancas nuvens negras disse...

O amor em forma de sofrimento.