Escrever é, para mim, tentar
desfazer nós, embora o que na realidade acabo sempre por fazer seja embrulhar
ainda mais os fios. A própria caligrafia é sufocada.
Há, todavia, um momento em que
as palavras são cuspidas, saem em borbotões, e o sangue e a saliva impregnam o
sentido. É impossível separá-los.
Por trás talvez não haja mesmo
nada. São palavras que não estão ginasticadas, que secam e encarquilham como
folhas por que a seiva já não passe.
Oprimem toda a página, através
da qual deixa de ser possível respirar. Tapam-lhe os poros. A própria chuva que
neles caia não se escoa.
Autor : Luís Miguel Nava
Sem comentários:
Enviar um comentário