sábado, 6 de agosto de 2022

Ecos



Ana Luísa Amaral
Nascimento: 5 de abril de 1956, 
Falecimento :  5 de agosto de 2022
.
Em voz alta, ensaiei o teu nome:
a palavra partiu-se
Nem eco ínfimo neste quarto
quase oco de mobília

Quase um tempo de vida a dormir
a teu lado e o desapego é isto:
um eco ausente, uma ausência de nome
a repetir-se

saber que nunca mais: reduzida
a um canto desta cama larga,
o calor sufocante

Em vez: o meu pé esquerdo
cruzado em lado esquerdo
nesta cama

O teu nome num chão
nem de saudades

Autor : Ana Luísa Amaral
in Se fosse um intervalo

3 comentários:

brancas nuvens negras disse...

Uma perda que me emocionou.
Curvo-me à sua memória. Merece a imortalidade.

Paula Saraiva disse...

Muito emocionante!
Beijinhos

LuísM Castanheira disse...

Como é possível só tardiamente eu
dar atenção a esta grande poeta?
Este poema - que não conhecia -
deixa-nos prostrados por tanta solidão.
Ver e ouvir a Autora, em entrevista na RTP difundida logo após a sua morte, e ouvir na voz dela o poema "Testamento" foi como se do Além
ela comunicasse.
Belo.
Um beijo, B