quarta-feira, 24 de agosto de 2022

erro de sintaxe

 

De comunicação não percebo nada
gosto é de genocídios de palavras
de caçar coelhos só com sílabas
disparar sobre tudo
apenas com uma junção de letras
até ficar sozinha, só eu
e a minha incompreensão
que nunca é a dos outros, que
usam sempre outra sintaxe.

Não sou capaz é de silêncio
não dá lucro, não faz viver
o silêncio incorpora sempre
uns braços cruzados, uma desistência
pendurada na lingua
um ar de lesma muda, sem opinião
e eu até posso perder
mas aos pulos, de socos no ar
montada num canhão de bandeira
hasteada a disparar a minha sintaxe
não a dos outros, que é deles
não quero nada que não me pertença, nunca quis
e das poucas coisas que tenho
é o que me sai da boca
que mesmo que já mastigado
não me deixa a barriga vazia.

Se não me faço entender
é porque nem sempre é fácil admitir que
sou a primeira a render-me
tantas vezes que nem aqui estou
que nunca sei quando venho
tantas vezes não quero desistir
que nem chego ao começo
já sei que é uma ousadia querer compreensão
de nada serve,
cada um tem uma, muito própria
e a subjectividade é inabalável

Seriam precisos infinitos livros para
me exprimir, para chegar por palavras
à compreensão, à minha.
Mas mesmo assim,
nunca seria a dos outros.

Autor : Cláudia R. Sampaio

2 comentários:

- R y k @ r d o - disse...

Imagem e poema deslumbrantes que me fascinou ver e ler.
.
Cordiais cumprimentos
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

brancas nuvens negras disse...

Um grande poema, incontestavelmente.