quarta-feira, 29 de setembro de 2021

NOSTALGHIA



Ouvia-te falar e sentia
as chamas retomarem
as paredes do teu coração
de igreja abandonada.
O céu, nessa tarde,
era um leque de lantejoulas
ao rés do teu sorriso
e dos meus olhos encadeados.
Doía-me esse excesso de luz
que te fazia toda sombra,
o crepitar morno da pele
antes do incêndio consumado.

Sempre que dizias o seu nome,
riscavas outro fósforo –
ele avançava dentro de ti,
nas mãos uma vela prestes a cair.
Amo demasiado o fogo
para a suster. Prefiro
redesenhar as nossas cicatrizes,
ser depois a memória da pedra
fria em pleno Verão.

Autor : Inês Dias
Imagem : Matthew Scherfenberg

2 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Mais um fantástico poema! :)
.
A ousadia dos sonhos...
.
Beijos, e uma excelente tarde!

brancas nuvens negras disse...

Venerar alguém que foi alguém.
Um abraço.