Chegámos tarde a nós.
Eu tinha a pele gasta, o coração no fio.
Tu eras um longo muro de cimento areado
em que deixava a carne inteira
a caminho do encontro.
A primavera ficava-nos sempre
à esquerda, e tu cada vez mais
dentro de mim até não sentir nada,
até estares já do outro lado.
Para trás, a cova matinal na almofada,
o postal entre a leitura suspensa,
o número a chamar de um fantasma.
Se apagar as marcas de onde pousaste
a cabeça sobre a minha vida,
se ganhar novo espaço para o fôlego,
faz-me só um favor:
nunca mais me reconheças.
Autor: Inês Dias
Imagem : Patrizzia Burra
3 comentários:
Poeticamente... fabuloso.
A imagem é magistrfal
.
Cumprimentos fraternos.
Um poema fantástico!!
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Tapetes alvos em campos de bonança
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Beijos. Feliz dia de Reis
Belíssimo poema!
Sensualidade á flor da pele...
Parabéns!
Beijinhos!
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