quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

ode do fim da paixão

 


agora que a paixão se demoveu de ti
são poucas as notícias que te trago.

as palavras bem podem ser
pequenos papéis atirados ao chão.
se o vento as levantar é porque ainda
haverá um livro de poemas
nas pontas dos dedos a ferir o espaço
para um último batimento.

deixaste-me assim com a paixão rápida
o funeral e os pássaros nos ramos
a aprender asneiras e as marchas de séculos
anteriores. recusaste um coração
a cercania das mãos
a destapar o rosto oculto.

agora é tarde
os poemas são vedações de florestas
que não podem crescer mais.
sem árvores o vento não sopra
e é pouco o que chega até ti.

Autor : Ana Salomé 
In " Odes", Ed. Canto Escuro, s/c, 2008, p 94. 
Imagem : Ildiko Neer

3 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Um poema muito bonito! ;)
-
Coisas de uma Vida
.
Beijo, e um bom dia!

" R y k @ r d o " disse...


Subtileza poética em poema muito intenso e profundo. Gostei muito de ler.
.
Deixando um abraço
Cuide-se
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

brancas nuvens negras disse...

Um poema de desilusão ou, talvez, de despedida.
Boa Noite.