Ezgi Polzt
Teu nome é quase indiferente
e nem teu rosto já me inquieta.
A arte de amar é exactamente
a de se ser poeta.
Para pensar em ti, me basta
o próprio amor que por ti sinto:
és a ideia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.
O lugar da tua presença
é um deserto, entre variedades:
mas nesse deserto é que pensa
o olhar de todas as saudades.
Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silêncio, obscuro, disperso.
Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,
teu coração, tua existência,
tudo - o espaço evita e consome:
e eu só conheço a tua ausência.
Eu só conheço o que não vejo.
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.
Autor : Cecília Meireles
in 'Viagem'
2 comentários:
~~~
Gosto muito de Cecília Meirelles,
Leio-a sempre com muito carinho,
Beijinho.
~~~~~~
Pa
Devia deixar umas palavras amáveis
aos seus leitores, ainda que fosse
apenas, de vez em quando.
Os poetas são assim
veem de olhos fechados
Enviar um comentário