domingo, 5 de outubro de 2008

Nas minhas mãos...

Nas minhas mãos
Deslizo no teu corpo...
As minhas mãos trémulas.
Percorro as linhas
De uma escultura perfeita,
E no suor da tua pele
Perco o medo de sentir.
Um momento único
De cada segundo que passa!
Nos meus dedos
Levo a inocência,
De um amor banido
Que se oculta,
Na textura do prazer
O estado natural do inconsciente.
Deslizo no teu corpo...
As minhas mãos pertencentes
Das sensações deslumbrantes,
Que a minha boca cala
Num beijo único.
Dois corpos despidos
Que se enaltecem de formosura
Nas minhas mãos...
.
Autor: Conceição Bernardino
Em "Alma Poética"
Página 19
Foto:Konradluczenczyk
.

um selo

um prémio atribuido a este blogue por
http://atilasiqueira.blogspot.com/
obrigada.

sábado, 4 de outubro de 2008

Noite

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.
Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.
São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.
Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.
Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.
Também a noite é escura.

Autor:Agostinho Neto
Foto: bornslippy

domingo, 28 de setembro de 2008

Perdão

Peço perdão às letras,
Por pouco saber escrever.
Peço perdão à vida,
Por não saber viver.
Peço perdão ao amor,
Por amar sem querer.
Peço perdão ao mundo,
Por não saber nele viver.
Peço perdão aos Deuses,
Por não saber lhes compreender.
Peço perdão à vida,
Por ter vontade de morrer.
Peço perdão a tudo,
Por nada ser.
Peço perdão,
E só perdão,
Por ser um tolo,
E nada na vida entender.

Autor:Átila Siqueira.
http://atilasiqueira.blogspot.com/
Foto:Paulo Madeira
Paulo Madeira - www.paulomadeira.net

sábado, 27 de setembro de 2008

Lençois de Algas

Sonho-te em lençóis de algas
Na água que acaricia
Teu corpo
Que te inunda e permanece
Por breves instantes
Em ritmos cadenciados
Sonho-te
Nas areias derramadas
Cálidas como
Este amor pagão
Cheio de sal e mar
Sonho-te
Neste golpear de horizontes
Em que me arrebato
Em barcos de papel
Onde navego nos ósculos
Carregados de doçura
Sonho-te
Meu segredo
Camuflado numa melodia
Tão intangível
Tão perfeita e completa
Que ninguém a conseguirá tocar
Sonho-te
Entorpeço
Tombo
Soergo-me
E adormeço
Para voltar a sonhar-te....
.
Autor:© Piedade Araújo Sol
Poiesis
Volume XV-Editora Minerva
Pág.195
Foto:amku


sexta-feira, 26 de setembro de 2008



(quero-te assim

longínquo e doce

terno e ausente)

só posso desejar-te nas palavras
.

Autor:Maria Aurora Carvalho Homem

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Memória



é de ti que eu falo
hoje
quando todos os pássaros emigram do Outono
para as cidades destruídas
quando os olhos marítimos de conhecerem as margens
do sul se fecham devagar
é de ti que eu falo.

Lembras-te?

era Janeiro e eu vinha do norte.
a casa vermelha tinha janelas azuis e à volta
um tempo de vinhas e canções longínquas.

estávamos sós.

Lembras-te?

então o pai atravessava o cais
a paravam os estios da ilha
o ventos do atlântico queimavam os lábios
e le dizia:

cesce filho corre filho
pra onde irei para onde?

e ele dizia:
aí há barcos barcos
ehavia barcos barcos.

Lembras-te?

Autor :José Agostinho Baptista
Desde lado onde - 1976
Foto:Miara Jakub

domingo, 7 de setembro de 2008

a casa onde às vezes regresso

a casa onde ás vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos

.
durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
.
tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração
.
Autor:José Tolentino Mendonça
Foto:Stefers

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

sem nome

Eu a esperar-te. O tempo a passar lento. Demoramos. As mesas vazias. O café vazio. Eu a esperar-te. Eu a imaginar-te. Tu a chegares. Tu a chegares. Tu a caminhares. Tu a sorrires. Tu a murmurares. Desculpa – estou atrasada! O tempo a começar a andar. Tu a ficares próxima. Eu a admirar-te. Tu a sorrires. Espécie de sol na minha vida. Eu a olhar-te. O tempo a andar mais depressa. Eu a querer-te. Tu nem por isso. O sol nos teus olhos. Eu a querer apanhar o sol. Tu quase a partires. O tempo a correr. Tu a saíres pela porta. Eu parado. O tempo que voa agora. Foste embora de novo. Eu a tropeçar na saudade. O sol a esconder-se. Eu a descer a rua ao contrário. Tu para norte. Eu para sul. Eu a querer-te. Tu nem por isso. Eu num café numa cidade qualquer. Uma mesa qualquer. Uma chávena vazia. A mesa vazia. Eu vazio. Um vazio imenso. Um silêncio imenso. Eu vazio de ti. Eu a esperar-te de novo. O tempo a passar lento outra vez. Eu a perder a vez. O sol a ir também. A noite em mim. O silêncio que chega. Eu a esperar-te ainda. A não dizer que te amo. O amor adiado. Eu a querer-te. Tu nem por isso.
.
Autor:João marinheiro 02/08/08


Foto:Wilktors

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

ah, sobre ausência escrevi isso:

a distância não te separa
nem a ausência
nem o silêncio
porque me mandas estrelas
sóis de outros sistemas
e beijos azuis molhados
porque sinto tuas gotas de orvalho
como se de repente
me transformasse
sem amarílis, orquídea, miosótis
ou em qualquer flor
que exale aroma
também azul(não sei nome de flor azul)porque me recrias dos cincos elementos
presentes em tuas palavra
se carregando um sexto sentido
já te pressinto em mim
homem azul.

(foi escrito para um poeta)


Autor:Pavitra
http://metamorfraseando.blogspot.com/
Foto:J.P.Sousa

domingo, 31 de agosto de 2008

tomou-me conta

poeta não sou eu, é o outro
que vive alojado em mim
durante tanto tempo o reprimi
agora revoltou-se libertou-se
sai quando quer e por onde lhe apetece
tomou-me conta
perdi-lhe a mão.

Já não lhe sou dono

Autor:antónio paiva
juntando as letras
Página 53
Edições Ecopy
Foto:KhAaMmlilia

sábado, 30 de agosto de 2008

Urgência


Levanta-te e deixa-me entrar,
diria se pudesse,
junto a esta cama onde a dor te contempla,
sob este tecto frio que não inventa qualquer paisagem,
qualquer lembrança de barcos ancorados no vazio da nossa alma, diria que lá fora escuto a sirene que se aproxima e a chuva que bate com as suas gotas de angústia na pedras da estrada,
diria que essas quatro rodas vão levar-te,
ao longo do pánico e da noite,
para outras paredes onde nenhum crucifixo redime a desolação das casas,
diria que se afastaram para sempre os dias antigos,
as suas laranjas,
a sua água,
uma cerejeira breve onde os melros cantavam.

Autor:José Agostinho Baptista
Foto:Kocham Krówki

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

a tua ausência é, cada momento, a tua ausência.


a tua ausência é, em cada momento, a tua ausência.não esqueço que os teus lábios existem longe de mim.aqui há casas vazias. há cidades desertas. há lugares.mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os teus lábios, sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver e para não chorar.
.
Autor José Luis Peixoto
In : A casa, A Escuridão
Foto:Szara Reneta

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Cais


Nunca parti deste cais e tenho o mundo na mão!
Para mim nunca é demais responder sim cinquenta vezes a cada não.
Por cada barco que me negou cinquenta partem por mim e o mar é plano e o céu azul sempre que vou!
.
Autor:Manuel Lopes
Foto:Paulo César

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

e um dia ele pegou num lápis

e um dia ele pegou num lápis,
e desenhou.
.
quando olhou o desenho nao sabia que o tinha desenhado.
assim a modos de riscos e rabiscos.
.
ela olhou o desenho e disse:
.
-Esta, sou eu!
.
ele disse:
.
-Quem és?
.
ela nao respondeu.....
.
Foto:Paulo Rebelo Lorient