Ajoelhávamos
naquele escuro sítio de madeira,
a fronte curvada, diante de um
sombrio quadrado pontilhado de
furos, que dissimulavam vestes
negras e um rosto oculto. Nessa
encenação da culpa, balbuciávamos
os nossos crimes infantis: faltei
duas vezes à missa. Disse nomes
feios. Desobedeci a minha mãe. Só não
sabíamos quase nenhuma palavra
o número de vezes que nos tínhamos
masturbado, jubilosos e tementes
daquela sabedoria secreta
que havíamos roubado
aos adultos. Assim tomávamos
o Senhor, em pecado mortal,
com a vaga tristeza de
não podermos ser pecadores
arrependidos.
Autor : Inês Lourenço
Imagem : Pinterest
1 comentário:
Uma experiência que muitos de nós recordam.
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