sexta-feira, 8 de maio de 2015

...

David Talley


Não haverá melhor
Tempo,
que o tempo que tenho para te Amar.

E embora,
Todo o tempo que o tempo me dá,
seja pouco para te Amar,
dou –te todo o meu tempo e tudo o que é de mim.

É isto o que faço com o tempo.

Querer ser teu ,

Até ao fim.

Autor: Sérgio Guerreiro

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O Amor é o Elixir da Juventude


O amor é um poema. Dói e canta cá dentro. Tem a filosofia das árvores, a lição do mar, os ensinamentos que as aves recolhem quando migram para lá dos desertos, de onde hão-de regressar mais sábias e seguras. O amor é uma causa. Uma luta excessiva com a divindade dos dias e a sua fogueira obscura. Mas também contra o mistério de si mesmo, uma paz que nos dá o cansaço e a loucura infeliz da felicidade, esse primitivo terror dos sinos que tocam como um aviso aos densos nevoeiros súbitos do mar.

O amor é uma casa. Erguida com os beijos, com os versos da noite e o gemido das estrelas. Casa cujas paredes vestem o nosso júbilo, a nossa intuição, a nossa vontade, sobretudo o nosso instinto e a nossa sabedoria. Onde se acende e brilha a luz suplicante da pele comprometida dos amantes. O amor é um gigantesco pequeno mistério, uma estranha generosidade que faz com que, quanto mais damos, com mais ficamos para dar.

Só o amor é o elixir da juventude. Não esse que sempre se procurou nas indecifráveis formulas dos antigos livros de magia e de alquimia, mas aquele que está tão perto de nós que, por vezes, o pisamos sem reparar.

Autor : Joaquim Pessoa
in 'Guardar o Fogo'

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Adeus


Sim, vou partir.
E não levo saudade
De ninguém
Nem em ti penso agora!
Julgavas que a tristeza desta hora
Fosse maior que a firme vontade
Que eu pus em destruir
O luminoso fio de ternura
Que me prendia ao teu olhar?
Julgaste mal:
Eu sei amar,
Mas meu amor
O que eu não sei
É ser banal!

Mas por que vim eu escrever-te ainda?
Nem eu sei!
Talvez somente
O hábito cortês da despedida
- e o hábito faz lei!

Choro?! Oh, sim , perdidamente!
Mas sabes tu, por que este pranto
Assim amargo e soluçado vem?
É que na hora da partida
Eu nunca pude sem chorar
Dizer adeus a ninguém!

Autor : Judith Teixeira,
in 'Antologia Poética'

terça-feira, 5 de maio de 2015

Morangos



No começo do amor, quando as cidades
nos eram desconhecidas, de que nos serviria
a certeza da morte se podíamos correr
de ponta a ponta a veia eléctrica da noite
e acabar na praia a comer morangos
ao amanhecer? Diziam-nos que tínhamos

a vida inteira pela frente. Mas, amigos,
como pudemos pensar que seria assim
para sempre? Ou que a música e o desejo
nos conduziriam de estação em estação
até ao pleno futuro que julgávamos

merecer? Afinal, o futuro era isto.
Não estamos mais sábios, não temos
melhores razões. Na viagem necessária
para o escuro, o amor é um passageiro
ocasional e difícil. E a partir de certa altura
todas as cidades se parecem.

Autor : Rui Pires Cabral,
 in 'Longe da Aldeia'

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sempre soube

TJ Scott

Sempre soube que já não sabia de mim.
Sempre soube quem era o silêncio
Que ainda não sabia,
Que eu de mim, já me esquecia.
Sempre soube que o Amor podia ser um só
Sempre soube que o nada já podia ser
a tarde.
Essa que ainda não sabia,
Que eu de mim sempre me esquecia.
Mas sempre soube quando estou só
E Sem mim
que,
Estou a viver no tempo que já me esqueci.


Autor : Sérgio Guerreiro

domingo, 3 de maio de 2015

Ó mãe


Gustav Klimt

Ó mãe, regressa a mim. Embala-me no tempo em que os teus lábios rebentavam de ternura. Ó mãe, ó minha mãe, ó rio de água pura, correndo pelas veias. Pelo vento.

Ó mãe, que és mãe de Deus, que és mãe de mim e mãe de Antero e de Camões, e mãe de quem lhe faltam as palavras como se faltasse o ar. E são assim uma espécie de filhos de ninguém. Abre o teu ventre, mãe. Acorda. Vem parir-me. E vem sofrer a minha dor uma vez mais. Morrer de amor por mim. Vem impedir-me o medo. Ensinar-me a amar a luz dos animais.

Ó mãe, ó minha mãe. Ó pátria. Ó minha pena. Que me pariste, assim, temperamental. Mãe de Ulisses, de Guevara e mãe de Helena. E mãe da minha dor universal.

Autor : Joaquim Pessoa,
in 'Ano Comum'

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O vermelho e o trigo




No fundo da terra há sempre
Um húmus insuspeito, uma semente, uma promessa...

Talvez um parto...

Talvez um grito,
Ou uma dor por abrir...

Talvez uma tensão na hora de soltar-se...

Há sempre na noite
Um dia imprevisível, uma esperança calada...

Há sempre uma morte que se faz vida...

Há sempre o vermelho e o trigo...

Sabe-se lá quando pode explodir uma flor...

Autor : heretico
In : http://relogiodependulo.blogspot.pt/

quinta-feira, 30 de abril de 2015

O Amor é Muito Difícil


Penso que o amor é muito difícil. Existem muitos obstáculos a que possa ser o absoluto que é. A palavra amor é uma palavra muito gasta, muito usada, e muitas vezes mal usada, e eu quando falo de amor faço-o no sentido absoluto... há uma série de outros sentimentos aos quais também se chama amor e que não o são. No amor é preciso que duas pessoas sejam uma e isso não é fácil de encontrar. E, uma vez encontrado, não é fácil de fazer permanecer.


Autor : José Luís Peixoto, 
in 'Notícias Magazine (2003)'

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Canção Erótica


Alegria é este pássaro que voa
da minha boca à tua.  É este beijo.
É ter-te nos meus braços toda nua.
Sentir-me vivo.  E morto de desejo.

Alegria é este orgasmo.  Esta loucura
de estar dentro de ti.  E assim ficar.
Como se andasse perdido e à procura
de possuir-te.  E possuir-te devagar.

Autor : Joaquim Pessoa
in CANÇÕES DE ex-CRAVO E MALVIVER.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

É no meu corpo que morreste



é no meu corpo que morreste. agora
temos o tempo todo
ao nosso lado, como
um lodo onde dormitam as
conhecidas maneiras.
algumas nuvens se aproximam, e depois
se afastam, numa duvidosa
manifestação de imperícia;
os animais falantes
atravessam corredores iluminados,
embarcam na
sossegada lembrança dos sonetos,
o leve sono que pesou no dia.
é no meu corpo que morreste, agora.

Autor  : © António Franco Alexandre

domingo, 26 de abril de 2015

A dieta


Deitei-me sem jantar, naquela noite
sonhei que te comia o coração.
Suponho que seria pela fome.
Enquanto devorava aquela fruta
─ era doce e amarga ao mesmo tempo ─
tu beijavas-me com os lábios frios,
mais frios e mais pálidos que nunca.
Suponho que seria pela morte.

Autor : amalia bautista

sábado, 25 de abril de 2015

Revolução


Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

como puro inícío
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

Autor : Sophia de Mello Breyner Andresen
in O nome das coisas

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Mudemos de casa

Mike & Madeleine Bülow

Mudemos de casa; porque é preciso
arrumar as dores de outra maneira,
certificarmo-nos da existência do corpo
em novos lençóis, voltar a ter ilusões,
lugar propício para a curiosidade
de alguns que nos fazem acreditar
que a vida é um amplo anfiteatro
para as mãos.

autor : jorge gomes miranda

terça-feira, 21 de abril de 2015

...

aynur Guçlu



para lá da cortina além da porta errada
silencioso e só está sentado
e lê num livro velho
a sua própria história

autor : manuel de castro

segunda-feira, 20 de abril de 2015

É uma tortura passar o dia à espera da noite

Pier Toffoletti
Perco-me nestas linhas,
com que te tento escrever...
As linhas que desenho no meu pensamento,
reproduzindo o teu sorriso...
O teu rosto perfeito,
desenhado à mão pelo mestre...
A tua beleza única,
que me prende em sonhos....
Aqueles sonhos que vivo
enquanto durmo e me mantêm vivo...
Acordo e só penso em dormir
para poder estar contigo...
É uma tortura passar o dia à espera da noite...
Queria ter-te a toda a hora...
Resides na minha lembrança...
Apenas isso...
Aquele momento que passou...
O cheiro que deixaste tatuado no meu corpo...
A pele sedosa que vestias...
Nuvens onde dormimos,
criadas pelo incenso que assistiu ao nosso amor...
Dissiparam-se depois...
Como os meus sonhos,
todas as manhãs quando acordo e tu não estás...

Autor : Nuno Miguel Miranda