As palavras também têm sábados e dores de cabeça e uma
história real na construção do mundo.
As palavras entristecem com a nossa fala. E nós
enlouquecemos sem elas. Porque o mundo são palavras.
As cores são palavras. A palavra primavera floresce em nossa
boca. E a palavra mar faz de quem a pronuncia, uma ilha encantada.
Quando parto sem palavras, uma tristeza vai comigo a doer-me
no sangue, na raiz da fala e do afecto.
Só elas podem explicar o mistério do amor.
Delas retiro o ouro, o trigo, a fala e a esperança. Nelas
vive o tigre e a esmeralda. Delas sopra o vento.
São curandeiras. Feiticeiras. Mensageiras. Deusas.
São o canto da alma e a voz que falta às andorinhas.
E o sorriso do anjo. E a única coisa que Deus não inventou.
São essas palavras que ficam mudas no coração da gente para
que os beijos possam dizer o que elas não dizem.
Autor : Joaquim Pessoa,
in “Guardar o Fogo”