quarta-feira, 30 de abril de 2008


Não há motivo para te importunar a meio da noite,
como não há leite no frigorífico, nem um limite
traçado para a solidão doméstica.Tudo desaparece. Nada desaparece. Tudo desaparece

antes de ser dito e tu queres dormir descansada. Tens

direito a um subsídio de paz.Se eu escrever um poema, esse não é motivo para te

importunar. Eu escrevo muitos poemas e tu trabalhas

de manhã cedo.Toda a gente sabe que a noite é longa. Não tenho o

direito de telefonar para te dizer isso, apesar dessa evidência me matar agora.E morro, mas não morro. Se morresse, perguntavas:porque não me telefonaste? Se telefonasse, perguntavas:sabes que horas são?Ou não atendias. E eu ficava aqui. Com a noite ainda

mais comprida, com a insónia, com as palavrasa despegarem-se dos pesadelos.


Autor:José Lúis Peixoto
Foto:Sordyl

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