quinta-feira, 27 de julho de 2023

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Gosto de um templo onde não se passa nada.
A luz solar que entra é um acontecimento
assim como as sombras que se movem devagar.
Tudo é tão parado que os olhos também param
e ao pararem vêem como se não fossem olhos
mas aberturas simples ou passagens no aberto.
Gosto de uns olhos onde não se passa nada.
A luz mental que entra é um acontecimento
assim como os desejos que se movem devagar.
Tudo é tão parado que as palavras também param
e ao pararem falam como se nada dissessem
mas fossem vozes altas, chamamentos no disperso.
Gosto da palavra em que não se passa nada.
A luz moral que entra é um acontecimento
assim como os enganos que se movem devagar.
Tudo é tão parado que o corpo também pára
e ao parar respira como se não fosse um corpo
mas um desejo aberto, oração continuada.
Gosto de um corpo onde não se passa nada.
A luz do mal que entra é um acontecimento
assim como as culpas que se movem devagar.
Tudo é tão parado que o pensamento para
e ao parar recebe não a lâmpada e a verdade
mas a ondulação que vem de onde não se sabe nada.

Autor : Carlos Poças Falcão
in Sombra Silêncio
Imagem: Tobias Glud

3 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Foto e texto em perfeita harmonia poética. Gostei demais.
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Saudações cordiais e poéticas
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Poema: “ Sorrindo me mentes “
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brancas nuvens negras disse...

O autor deste poema é um amante da paz.

Cidália Ferreira disse...

Que poema bonito!!
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Por cá...
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Beijos e uma boa noite!