sábado, 2 de julho de 2022

Desfecho


Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te…
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte.)

Fosse qual fosse o chão da caminhada
Era certa a meu lado

A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente…

E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tua não usas,
Sempre silencioso na agressão.

Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia…
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.

Autor : Miguel Torga
 In câmara ardente 1962
Imagem : David Talley

3 comentários:

brancas nuvens negras disse...

Torga e um poema sobre os seus momentos místicos.

Cidália Ferreira disse...

Adorei o poema. Parabéns. Obrigada pela partilha!
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Dias distantes, e sombrios ...

Beijos. Feliz fim de semana.

- R y k @ r d o - disse...

Poema deslumbrante de ler
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Um feliz fim de semana.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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