sábado, 28 de agosto de 2021

Esta noite, outra noite

 


Esta noite, outra noite,
esta manhã que nasce pelas frinchas
da janela pequena entreaberta,
por planaltos e vales caprichosos,
lagos azuis, ravinas, e pinhais,
irei de vez em quando perguntando
onde existes? onde estás?
Talvez te enroles no lençol, ou seja
tua esta voz que canta em língua estranha,
ou por galáxias amplas de aventura
noutro quarto quebrado me procures
para existires em mim uma vez mais.
Que medo tenho de ir perdendo a sorte
em armários de gente contrafeita,
e ser, quando voltares, imunda fera
morta, sem dentes, numa esquina ou poço,
o último exemplar da sua espécie;
eu que seria jovem para sempre
em cada pensamento, em cada gesto,
em cada rima obscura do teu verso.

Autor : António Franco Alexandre
Imagem : Mariesol Fummy

2 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Um excelente poema!! :))

*
Rasgam-se pensamentos pelas nuvens
.
Beijo, e um excelente fim de semana.

" R y k @ r d o " disse...

Um poema, uma pergunta, difícil de ter resposta
Poema encantador que me fascinou ler.
.
Feliz fim-de-semana
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.