terça-feira, 17 de novembro de 2020

Varanda de Pilatos

Não há tempo. Há o espaço. O sol e as nossas voltas.
Os bocejos da lua, o clã dos astros.
Os buracos negros.
Ó mãe! Para onde foram os seres vivos de ainda
Há pouco em todo o seu esplendor?
Mortos como tu, a natureza recebe-os.
A Terra, essa criança atroz, destrói os seus brinquedos
Numa rotina mecânica.
Quantas noites me faltam? Quantos beijos no escuro?
Quanta luz me cabe ainda nas pupilas?
Os anos não me matam, não me ferem os meses,
As horas não me guilhotinam.
As células vão ardendo nos seus mapas
De nervos, o sangue demora sempre mais um pouco
A chegar ao seu destino orgânico.
Devagar, devagar, a cabeça amolece.
Devagar no colo do sono.
Ó mãe. Um ninho. Uma cama macia no teu ventre.
Uma exposição de sinais. Uma geometria
Que me liga ao saber acumulado.

Autor : Armando Silva Carvalho
in 'Sol a Sol'
Imagem: Mikael Aldo

3 comentários:

brancas nuvens negras disse...

Um grande poeta, um grande poema.

" R y k @ r d o " disse...

Maravilhoso de ler. Direi mesmo que sublime.
.
Um dia feliz
Saudações poéticas

Cidália Ferreira disse...

Muito bonito!:)
*
Melancolia à velocidade do tempo...
-
Beijo e uma excelente noite :)