quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Já a luz se apagou do chão do mundo





Já a luz se apagou do chão do mundo,

deixei de ser mortal a noite inteira;
ofensa grave a minha, que tentei
misturar-me aos duendes na floresta.
De máscara perfeita, e corpo ausente,
a todos enganei, e ninguém nunca
saberia que ainda permaneço
deste lado do tempo onde sou gente.
Não fora o gesto humano de querer-te
como quem, tendo sede, vê na água
o reflexo da mão que a oferece,
seria folha de árvore ou sério gnomo
absorto no silêncio de uma rima
onde a morte cessasse para sempre.

Autor : António Franco Alexandre,

             in «Duende»

2 comentários:

Mar Arável disse...

Ao poeta só lhe faltou

ver de olhos abertos

a luz
dos relâmpagos

A Casa Madeira disse...

Existe algo mais democrático do que a noite? nos sonhos ou de olhos fechados podemos ser o que quiser-mos.
Muito bacana.
Abraços