Ao virar da esquina
um anjo invisível espera;
uma vaga névoa, um magro espectro
dir-te-á algumas palavras do passado.
Como água de rega, o tempo
escava em ti um árduo trabalho
de dias e semanas,
de anos sem nome ou memória.
Ao virar da esquina
seguir-te-á esperando em vão
esse que não foste, esse que morreu
de tanto ser tu mesmo como és.
Nem a mais leve suspeita,
nem a mais leve sombra
te indica o que poderia ter sido
esse encontro. E sem dúvida,
ali estava a chave
da tua breve felicidade sobre a terra.
Autor: de Álvaro Mutis
in “Sombras Brancas — Setenta e sete poemas sobre anjos caídos de outras línguas“, tradução de Jorge Sousa Braga, Língua Morta 068, 2016, p. 79
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