quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O meu poema teve um esgotamento nervoso.

O meu poema teve um esgotamento nervoso.
Já não suporta mais as palavras.
Diz às palavras: palavras
ide embora,
ide procurar outro poema
onde habitar.

O meu poema tem destas coisas
de vez em quando.
Posso vê-lo: ali distendido
em cama de linho muito branco
sem perspectivas ou desejo

quedando-se num silêncio
pálido
como um poema clorótico.

Pergunto-lhe: posso fazer alguma coisa por ti?
mas apenas me fixa o olhar;
fica a li a fitar-me de olhos vazios
e boca seca.

Autor :  Daniel Jonas
Imagem : Ira Zhuyka Dzhul

3 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Poeticamente sublime
.
Abraço

brancas nuvens negras disse...

Curioso poema, original.

Dan André disse...

Tão perfeito, que as palavras fogem para descrever a mudez desse silêncio.

Abraços do amigo,
Dan
https://gagopoetico.blogspot.com/