A meio desta vida
continua a ser
difícil,
tão difícil
atravessar o medo,
olhar de frente
a cegueira dos rostos
debitando
palavras destinadas a
morrer
no lume impaciente de
outras bocas
anunciando o mel ou o
vinho ou
o fel.
Calmamente sentado
num sofá,
começas a entender,
de vez em quando,
os condenados a
prisão perpétua
entre as quatro
paredes do espírito
e um esquife negro
onde vão desfilando
imagens, só imagens
de canal em canal,
sintonizadas
com toda a angústia e
estupidez do mundo.
As pessoas - tu sabes
- as pessoas são feitas
de vento
e deixam-se arrastar
pela mais bela
respiração das
sombras,
pela morte que repete
os mesmos gestos
quando o crepúsculo
fica a sós connosco
e a noite se redime
com uma estrela
a prometer
salvar-nos.
A meio desta vida os
versos abrem
paisagens virtuais
onde se perdem
as intenções que
alguma vez tivemos,
o recorte obscuro de
perfis
desenhados a fogo há
muitos anos
numa alma forrada de
espelhos
mas sempre tão vazia,
sem abrigo
para corpo nenhum.
Autor : Fernando
Pinto do Amaral
in 'Pena Suspensa'
Imagem :Cyril Rolando
Sem comentários:
Enviar um comentário