quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Desespero


7 de Dezembro 1936
18 Janeiro de 1984

Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.

Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.

Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu

A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o esperma que te dou, o desespero.

Autor : Ary dos Santos
in 'Liturgia do Sangue'

1 comentário:

LuísM Castanheira disse...

a negação do amor...
na desilusão do que poderia ser e não foi.
um belo poema do Ary