terça-feira, 29 de novembro de 2016

Como se Morre de Velhice

Ionut Caras

Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)

Autor : Cecília Meireles
in 'Poemas (1957)'


2 comentários:

Mar Arável disse...

Estamos sempre a desnascer

Bj

LuísM Castanheira disse...

a indiferença, essa cruel cegueira...
aos olhos abertos da Cecília.