quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Amei-te sem Saberes



No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos

E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar

No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada

Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio


Autor : Mia Couto
in 'Raiz de Orvalho'

1 comentário:

LuísM Castanheira disse...

"... amei-te sem saberes..."
quantos caminhos paralelos...