domingo, 19 de fevereiro de 2012

Estavas sentado e havia uma paisagem agreste





Estavas sentado e havia uma paisagem agreste
nos teus olhos: as nuvens a prometerem chuva,
os espinheiros agitados com a erosão das dunas,
um mar picado, capaz de todos os naufrágios.

O teu silêncio fez estremecer subitamente a casa -
era a força do vento contra o corpo do navio; uma
miragem fatal da tempestade; e o medo da tragédia;
a ameaça surda de um trovão que resgatasse a ira
dos deuses com o mundo. quando te levantaste,

disseste qualquer coisa muito breve que me feriu
de morte como a lâmina de um punhal acabado
de comprar. (Se trovejasse, podia ser um raio
a fracturar a falésia no espelho dos meus olhos.)

Hoje, porém, já não sei que palavras foram essas -
de um temporal assim recordam-se sobretudo os despojos
que as ondas espalham de madrugada pelas praias.

Autor : Maria do Rosário Pedreira

4 comentários:

mfc disse...

Recordamos sempre os despojos... é o que nos resta!!

mfc disse...

Ahhh... e a foto é fantástica!!

Manuel Veiga disse...

há sempre os "salvados. num naufrágio...

belo poema.

beijo

Mar Arável disse...

Há relâmpagos e tempestades

que se afagam nas mãos