Estavas sentado e havia uma paisagem agreste
nos teus olhos: as nuvens a prometerem chuva,
os espinheiros agitados com a erosão das dunas,
um mar picado, capaz de todos os naufrágios.
O teu silêncio fez estremecer subitamente a casa -
era a força do vento contra o corpo do navio; uma
miragem fatal da tempestade; e o medo da tragédia;
a ameaça surda de um trovão que resgatasse a ira
dos deuses com o mundo. quando te levantaste,
disseste qualquer coisa muito breve que me feriu
de morte como a lâmina de um punhal acabado
de comprar. (Se trovejasse, podia ser um raio
a fracturar a falésia no espelho dos meus olhos.)
Hoje, porém, já não sei que palavras foram essas -
de um temporal assim recordam-se sobretudo os despojos
que as ondas espalham de madrugada pelas praias.
Autor : Maria do Rosário Pedreira
Foto:The Professor
4 comentários:
Recordamos sempre os despojos... é o que nos resta!!
Ahhh... e a foto é fantástica!!
há sempre os "salvados. num naufrágio...
belo poema.
beijo
Há relâmpagos e tempestades
que se afagam nas mãos
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