Falo de um homem que possuía livros de poemas. Foi talvez o único real leitor. Ele abria os livros, um livro. Escolhia um poema. Era um ritual misterioso. Porque ele raspava as letras da página, cuidadosamente, como para conservar a integridade do papel. Raspava e reunia os pedaços negros. Aquecia então água com o vagar próprio da vertigem. Uma estranha ciência de vapores.
o homem que possuía livros de poemas, possuía uma biblioteca em branco. Páginas e páginas de poemas arrancados sem vestígios, um crime perfeito. Era uma biblioteca poética. Uma biblioteca que podia arder.
Autor : Vasco Gato
de Omertã, Quasi Edições, 2007Imagem:-Fao
3 comentários:
pois, sim! prefiro a poesia que se come...
beijo
Continua a ser difícil mastigar e entender poemas!
O Poeta está para além de nós... cabe-nos segui-lo!
A poesia não quer salvar o mundo
só ajidar
Para ti
tudo pelo melhor neste inverno
prolongado e descontente
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