domingo, 24 de maio de 2009

os nós da escrita

Escrever é, para mim, tentar desfazer nós, embora o que na realidade acabo sempre por fazer seja embrulhar ainda mais os fios. A própria caligrafia é sufocada.
Há, todavia, um momento em que as palavras são cuspidas, saem em borbotões, e o sangue e a saliva impregnam o sentido. É impossível separá-los.
Por trás talvez não haja mesmo nada. São palavras que não estão ginasticadas, que secam e encarquilham como folhas por que a seiva já não passe.
Oprimem toda a página, através da qual deixa de ser possível respirar. Tapam-lhe os poros. A própria chuva que neles caia não se escoa.



Autor:Luís Miguel Nava
Foto:mastercrasch


1 comentário:

Anónimo disse...

não tenho, ainda, nenhum livro deste autor, mas fico sempre atenta a tudo quanto dele se cita online. não conhecia este excerto e, mais uma vez, fui surpreendida pelas palavras de luís miguel nava. obrigada pela partilha.