domingo, 31 de julho de 2016

É noite

eric zener

É noite e não durmo
Não quero este frio em mim
Quando lá fora a canícula impera

Não quero que me visites
Em sonhos
Nem te quero sonhar

Não sabes, mas a porta
Está aberta
E o meu coração também

Autor : BeatriceMar

sexta-feira, 29 de julho de 2016

O sexo é sagrado


O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.

Autor : Cláudia Marczak

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Silêncio e ternura

Nelina Trubach Moshnikova

Entre nós
Há palavras
Desenhadas no
Silêncio da noite.
Entre nós
Há desejos
E carícias
Em cada palavra
Que se não
Pronuncia
Entre nós
Há muros de silêncios
Derrubados
Em cada maré
Que se adivinha

Entre nós
Permanecemos.

Autor : Otília Martel

terça-feira, 26 de julho de 2016

Solidão


Paolo Barzman

Ó solidão! À noite, quando, estranho,
Vagueio sem destino, pelas ruas,
O mar todo é de pedra... E continuas.
Todo o vento é poeira... E continuas.
A Lua, fria, pesa... E continuas.
Uma hora passa e outra... E continuas.
Nas minhas mãos vazias continuas,
No meu sexo indomável continuas,
Na minha branca insónia continuas,
Paro como quem foge. E continuas.
Chamo por toda a gente. E continuas.
Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.
Invento um verso... E rasgo-o. E continuas.
Eterna, continuas... Mas sei por fim que sou do teu tamanho!

Autor : Pedro Homem de Mello
in "O Rapaz da Camisola Verde"

domingo, 24 de julho de 2016

procura-me

Anca Cernoschi
procura-me
que eu não parti de vez

 tento recolher os estilhaços
 que ainda estão espalhados

e as memórias nunca estiveram
tao vivas e tão suaves

procura-me na tarde
diante da noite, a querer fugir do dia

mas não desistas de mim
nem de nós.

Autor : BeatriceMar

sábado, 23 de julho de 2016

Se

David Garrett

Se o mar escrevesse música
escolheria o teu corpo
para pauta.

Autor : Gonçalo Salvado
in Outra Nudez

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Música

Nelina Trubach Moshnikova 

Devagar...
outro beijo... ou ainda...
O teu olhar, misterioso e lento,
veio desgrenhar
a cálida tempestade
que me desvaira o pensamento!

Mais beijos!...
Deixa que eu, endoidecida,
incendeie a tua boca
e domine a tua vida!

Sim, amor..
deixa que se alongue mais
este momento breve!...
— que o meu desejo subindo
solte a rubra asa
que nos leve!
MÚSICA


Autor :  Judith Teixeira

quarta-feira, 20 de julho de 2016

...


Leslie Ann O'Dell

Quero dar-te a coisa mais pequenina que houver
bago de arroz
grão de areia
semente de linho
suspiro de pássaro
pedra de sal
som de regato
a coisa mais pequena do mundo...
a sombra do meu nome
o peso do meu coração na tua pele.

Autor : Rosa Lobato de Faria
In a noite inteira já não chega

terça-feira, 19 de julho de 2016

Insone

steve hanks



Meus olhos abertos!
Levai-me até ao mar
a ver se adormeço!

Aqui tão distantes,
não se hão-de fechar
meus olhos abertos.

Chorarão lembranças,
formarão um mar
de pranto e desejo.

Um mar sem consolo,
que me há-de levar
à insónia eterna.

Não imitam os beijos
nem doces cantares
a onda e o vento.

A onda e o vento!
Quero ver o mar,
a ver se adormeço!

Autor : Juan Ramón Jiménez

domingo, 17 de julho de 2016

certezas

amber ortolano

aqueles que tu pensavas que nunca te abandonariam, foram os primeiros a dar o salto.
não que fosse uma surpresa…porque tu até pensavas nessa hipótese.
mas nunca admitias que um dia fosse realidade.

Autor : BeatriceMar

domingo, 10 de julho de 2016

hoje


Christian Schloe
hoje,
senti o riso das aves
que voavam, em bando
felizes
e eu sorri no sorriso
que de ti recebi.

Autor : BeatriceMar

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Gaivota




Katia Chausheva
Como a gaivota que busca o alimento
Eu busco em teus gestos o amor.
Se tropeço em terra, subo em voo lento
E atinjo alturas breves de condor.

E pairo nesse céu que é o teu mar,
E mergulho já louca de paixão
Nesse líquido azul do teu olhar
Aí despedaçando o coração.

E de condor-gaivota, a tropeçar
Ouço ao longe ainda alguns harpejos
Recordo com saudade esse mar,
E o sal, em meus lábios, dos teus beijos.


Helena Domingues

terça-feira, 5 de julho de 2016

Primeiramente


Eric Zener

Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus.
E é assim que a noite chega, e dentro dela te procuro, encostado ao teu nome, pelas ruas álgidas onde tu não passas, a solidão aberta nos dedos como um cravo.
Meu amor, amor de uma breve madrugada de bandeiras, arranco a tua boca da minha e desfolho-a lentamente, até que outra boca — e sempre a tua boca — comece de novo a nascer na minha boca.
Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros, encostar a face ao rosto lunar dos bêbados e perguntar o que aconteceu.

Autor : Eugénio de Andrade
in 'Poesia e Prosa [1940-1980]'

domingo, 3 de julho de 2016

a paixão


a minha boca procura a tua
como  se fosse um rio aflito em procura da foz
as tuas mãos fazem morada no meu corpo
e
as labaredas incendeiam os corpos
na sofreguidão do momento
e da paixão.

Autor :BeatriceMar

sábado, 2 de julho de 2016

Para não deixar de amar-te nunca

Elena Helfrecht
Saberás que não te amo e que te amo
pois que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem a sua metade de frio.

Amo-te para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.

O meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

Autor : Pablo Neruda
in CEM SONETOS DE AMOR (1959)]