apesar do autor dizer que, "a poesia era um jogo de conhecidas palavras", não era sentido.
este poema é quase um biografia.
RETRATO
Fui só eu que estraguei as alvoradas - presas suaves nos plúmbeos céus!, e dei água aos ribeiros da minha alma e fiz preces de amor e sangue, a Deus...
Fui só eu que, sabendo da tormenta que o vento da nortada me dizia, puz meus lábios no sonho incompleto e rasguei o meu corpo na poesia.
Vieram dar-me abraços e contentes viram que me afundava sem remédio - nem um grito subia do horizonte há mil anos deitado sobre o tédio!
Quando chamaram por mim do imenso rio que a noite veste para se entreter vi que os barcos andavam cheios de almas buscando sonhos para não sofrer.
Cantavam doidas como a dor e a morte parando, a espaços, para ver montanhas e eram luzes mordidas pelas sombras, corajosas, infelizes - mas tamanhas!
Eu fugi de as ouvir (que ardentes vozes...) de navegar nas mesmas ansiedades e fui sozinho semear as luas e a natureza inculta das idades.
Parti, negando à vida o seu direito, recalcando os meus sonhos e os meus medos...
sei agora que matei o meu destino e quebrei o futuro nos meus dedos.
Vasco de Lima Couto, in: "Os Olhos e o Silêncio" - 1952
4 comentários:
decifrar os sinais do rosto
como mapa da vida
beijo
talvez goste tanto como eu...
apesar do autor dizer que, "a poesia era um jogo de conhecidas palavras",
não era sentido.
este poema é quase um biografia.
RETRATO
Fui só eu que estraguei as alvoradas
- presas suaves nos plúmbeos céus!,
e dei água aos ribeiros da minha alma
e fiz preces de amor e sangue, a Deus...
Fui só eu que, sabendo da tormenta
que o vento da nortada me dizia,
puz meus lábios no sonho incompleto
e rasguei o meu corpo na poesia.
Vieram dar-me abraços e contentes
viram que me afundava sem remédio
- nem um grito subia do horizonte
há mil anos deitado sobre o tédio!
Quando chamaram por mim do imenso rio
que a noite veste para se entreter
vi que os barcos andavam cheios de almas
buscando sonhos para não sofrer.
Cantavam doidas como a dor e a morte
parando, a espaços, para ver montanhas
e eram luzes mordidas pelas sombras,
corajosas, infelizes - mas tamanhas!
Eu fugi de as ouvir (que ardentes vozes...)
de navegar nas mesmas ansiedades
e fui sozinho semear as luas
e a natureza inculta das idades.
Parti, negando à vida o seu direito,
recalcando os meus sonhos e os meus medos...
sei agora que matei o meu destino
e quebrei o futuro nos meus dedos.
Vasco de Lima Couto,
in: "Os Olhos e o Silêncio" - 1952
* queria dizer: auto-retrato.
LuisM Castanheira
gosto...muito
obrigada!
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