Saul Landell
Roça-me também tu com tua asa – única parte
verdadeiramente palpável de ti.
Que não seja sempre a inoportuna
asa da morte, semelhante à dos morcegos,
a roçar-se por mim.
Naquelas noites de temporal desfeito
que nada alumia nem aquece,
nem sequer a memória, que costuma ser
o que temos de mais quente e luminoso –
- nessas noites desabridas,
se a tua asa me roçasse o rosto,
recebê-la-ia como um nu recebe uma manta;
como um viandante em noite de Inverno
a quem é oferecido um canto à lareira
e uma candeia
para esconjuro das trevas e do frio.
Roça-me com ela, por favor,
ao menos uma vez e numa noite dessas.
Autor :A. M. Pires Cabral
in “RESUMO a poesia em 2011”, página 12
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