sábado, 2 de janeiro de 2016

A tua asa

Saul Landell

Roça-me também tu com tua asa – única parte
verdadeiramente palpável de ti.

Que não seja sempre a inoportuna
asa da morte, semelhante à dos morcegos,
a roçar-se por mim.

Naquelas noites de temporal desfeito
que nada alumia nem aquece,
nem sequer a memória, que costuma ser
o que temos de mais quente e luminoso –

- nessas noites desabridas,
se a tua asa me roçasse o rosto,
recebê-la-ia como um nu recebe uma manta;
como um viandante em noite de Inverno
a quem é oferecido um canto à lareira
e uma candeia
para esconjuro das trevas e do frio.

Roça-me com ela, por favor,
ao menos uma vez e numa noite dessas.

Autor :A. M. Pires Cabral
in “RESUMO a poesia em 2011”, página 12

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