sexta-feira, 26 de junho de 2015

ESTAVA PRECISAMENTE A DIZER-TE

Jonni Avri

Estava precisamente a dizer-te
que o meu coração tem um sorriso ao qual não
me oponho porque esse sorriso tem a forma de
um barco que desliza sobre qualquer mar
de lágrimas. Fico satisfeito por teres perdoado
as minhas palavras. Cada uma delas quer ser melhor
que a outra. Sabes?, isto de ser poeta não é de facto
coisa que se recomende, e um verbo é como o vento.
Se alteras o tempo verbal, mudas a direcção do
vento, quero eu dizer, a direcção do pensamento. O que
canto não é o que cantei, e também decerto não será
o que cantarei um dia. Por isso estava a dizer-te
que o meu coração sorri. E não sorri
apenas. Adora andar por aí, a assobiar
o futuro. Fazendo justiça
a quem me lê.

Autor : Joaquim Pessoa
in O POETA ENAMORADO
Prefácio de Guilherme Antunes.

Editora Edições Esgotadas, 2015.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

A Cor da Tua Alma



Enquanto eu te beijo, o seu rumor
nos dá a árvore, que se agita ao sol de ouro
que o sol lhe dá ao fugir, fugaz tesouro
da árvore que é a árvore de meu amor.

Não é fulgor, não é ardor, não é primor
o que me dá de ti o que te adoro,
com a luz que se afasta; é o ouro, o ouro,
é o ouro feito sombra: a tua cor.

A cor de tua alma; pois teus olhos
vão-se tornando nela, e à medida
que o sol troca por seus rubros seus ouros,
e tu te fazes pálida e fundida,
sai o ouro feito tu de teus dois olhos
que me são paz, fé, sol: a minha vida!


Autor : Juan Ramón Jiménez,

in "Ríos que se Van"
Tradução de José Bento

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Poema

Magdalena Mazd

Antes isto fosse
mãos e pés verdadeiros,
caminho verdadeiro
e machados,
arados,
mãos crescendo nas trevas.
Antes isto fosse
um canto de galos
além nos quintais,
e homens correndo
nas sombras da noite.
Ah, fossem isto ventos,
fossem isto ventos!
desabar de casas,
largada de navios
na madrugada
com acenos e gritos reais.
Fosse isto sangue
a ensopar-me a camisa,
fosse isto sangue!
quente e espesso
nas minhas mãos.


Autor : Papiniano Carlos

sexta-feira, 19 de junho de 2015

.

anka zhuravleva

Deixem-me voar...
Se me tirarem as asas
deixarei de ser quem sou
serei um outro qualquer
se me tirarem as asas
não saberei onde estou
nem o que hei-de fazer
só sei que com asas
voarei enquanto puder
mesmo que em contravento
e se me tirarem as asas
é certo que me levarão
também o pensamento!

Autor : José Alex Gandum (JAG)
  

domingo, 14 de junho de 2015

As tuas mãos

Vera von Nicest

As tuas mãos insurrectas
libertaram todos os pássaros
que viviam em mim
e que eu nem sabia.

Ainda hoje sinto que
os pássaros adejam sempre
para além de mim
e de nós.
.
Beatrice Mar 2914-05-02
reeditado



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Poesia

fabrizia milia

A paixão é a moral da poesia: arrisquem a cabeça se querem entender; arrisquem o corpo, a sua medida, se pretendem descobrir o centro do corpo; e sim, arrisquem sobretudo o nome pessoal para ouvirem o nome de baptismo como o coroado nome da terra.

Autor - Herberto Helder
Jornal Público, 4 Dezembro 1990

segunda-feira, 8 de junho de 2015

4140



Amo-te antes do chá da manhã. Quando ele se aproxima. já o chá dos nossos corpos foi transformado no mais sedoso dos sabores.

Autor : Casimiro de Brito
FRAGMENTOS DO LIVRO DE EROS

domingo, 7 de junho de 2015

Adormeceste


    Roebrt


    Adormeceste, quando a luz débil,
    descaía sobre o teu corpo – nú
    contemplei-te,
    com o olhar narcotizado em ti.

    Deixei-te sossegado e quando enfrentei,
    o frio da madrugada,
    ainda levava o sabor do teu beijo,
    em minha boca.

    Por momentos, e ainda com a tua imagem,
    entranhada em meu olhar,
    em pensamentos, delineei uma tela.

    Que ainda ninguém ousou pintar
    .
    BeatriceMar 31/08/2014

    reeditado

    sábado, 6 de junho de 2015

    Mareantes do Vento


    Crescemos na nudez das rochas

    crescemos e desmaiamos
    conforme as marés

    Vertemo-nos líquidos
    em caudais de sons
    ardidos no sal
    no delírio da espuma
    por todo o corpo

    Crescemos na substância das pedras
    com asas muito leves

    Não somos barco de carregar velas
    somos mareantes do vento


    Autor : Eufrázio Filipe
    http://mararavel.blogspot.pt/

    quarta-feira, 3 de junho de 2015

    ...



    passo a noite, a escrever...
    sem falar o que penso
    sem sentir o que digo
    sem dizer o que escrevo.
    não apontei o que escrevi
    rasgo as palavras
    para não ler o que senti...


    Autor : Nuno Caetano

    terça-feira, 2 de junho de 2015

    Da música

    lilyenn

    A musica derrama-se
    no corpo terroso
    da palavra. Inclina-se
    no mundo em mutação
    do poema.
    A música traz na bagagem
    a memória do sangue; o caminho
    do sol: Lume e cume
    de palavras polidas.
    A música rompe um rio de lava
    por si mesmo criado. Lágrima
    endurecida
    onde cabem o mar
    e a morte.

    Autor : Casimiro de Brito

    Canto Adolescente

    segunda-feira, 1 de junho de 2015

    Dia da Criança

    Judith Urmes

    que todos os dias sejam dias das crianças...e de nós.

    domingo, 31 de maio de 2015

    recordação

    Marina Yonn

    não posso retroceder ao lugar dos desejos,
    perdi-me no retorno, pelas ruelas,
    e a claridade do sol, ofuscou-me a visão
    que me deixou aturdida e cega de tudo.

    apenas guardo para sempre,
    o teu nome feito pássaro,
    feito sonho realizado.
    .
    BeatriceMar 2014-08-24

    (reeditado)

    sábado, 30 de maio de 2015

    ...

    Mariska Karto

    Sempre soube que já não sabia de mim.
    Sempre soube quem era o silêncio
    Que ainda não sabia,
    Que eu de mim, já me esquecia.
    Sempre soube que o Amor podia ser um só
    Sempre soube que o nada já podia ser
    a tarde.
    Essa que ainda não sabia,
    Que eu de mim sempre me esquecia.
    Mas sempre soube quando estou só
    E
    Sem mim
    que,
    Estou a viver no tempo que já me esqueci.


    Autor : Sérgio Guerreiro

    sexta-feira, 29 de maio de 2015

    sim!


    Arthur Braginski


    sim!
    foi porque te vi
    que sonhei
    e hoje
    há um vento quente,
    que preso ao peito
    ameaça tempestade,
    sempre que és
    ausência nesse sonho.
    sempre...


    Autor © João Costa . 3.maio.2015