domingo, 27 de novembro de 2011

As noites

São tão grandes as noites – na casa
É tão imenso o silêncio - consentido
Em forma de abismos

E nas mãos
Apenas repousa o nada
Entrelaçados nos pés
.
Autor : BeatriceM

domingo, 20 de novembro de 2011

Fim



faz-se tarde
e eu deixei de esperar-te.


todos os portos se fecham sobre mim
e a floresta adensa-se -


nenhuma clareira se abre à passagem dos
animais e do homem antigo.


são 4 horas na manhã de todos os relógios.

.Autor :José Agostinho Baptista
Foto::Leszek

domingo, 13 de novembro de 2011

O verdadeiro poema

O verdadeiro poema
não voa pela vida, mas acima dela.
É um falso deambular que atira
as imagens ao ar ainda não respirado
e as ata,
em braçados de palavras redondas,
no horizonte de cada olhar.
.
O verdadeiro poema
conduz mais vozes de fora para dentro
que o inverso.
É um filme ao contrário
onde a bala, que não é disparada
pela espingarda do poeta,
tem que atingir quem carregar no gatilho.
.
Mas, se o horizonte é pequeno,
não há ricochete e
o verdadeiro poema morre por fuzilamento.



Autor : Nilson Barcelli http://nimbypolis.blogspot.com/
Foto ERTU

    domingo, 6 de novembro de 2011

    Ainda


    tantas vezes – ainda
    são a memória dos teus dedos que me tocam
    que deambulam 
    e correm como um rio na procura desenfreada
    da foz
    no meu corpo
    ainda – sempre – teu.

    tantas vezes – ainda
    chega-me o cheiro verde de mentol
    do teu hálito no meu

    e o corpo – o meu
    ainda - sempre
    continua solitário - à espera do teu.
    .
    Autor :Beatrice
    Foto:Rishka

    domingo, 30 de outubro de 2011

    Nada mudou



    Nada mudou.Ao fim de tantos anos, o meu
    passado é ainda o mesmo passado –nenhum
    rosto diferente para desviar o rio da memória,
    nenhum nome depois. Para te esquecer,

    devia ter partido há muito tempo.como viajam
    as aves de verão em verão.E tentei; mas as malas
    abertas sobre a cama eram livros abertos, e eu
    nunca fechei um livro antes do fim. Por ter

    ficado, nada mudou jamais –e o meu passado é
    ainda o nosso passado; e o rosto que tinha antes
    de me deixares é o que o espelho me devolve no
    presente…

    Autor Maria do Rosário Pedreira
    Foto: anna66

    domingo, 23 de outubro de 2011

    sem rédeas


    sem rédeas
    és um potro que corre
    livre e ágil
    na planície
    em cores de palha seca.
    .
    nessa inquietação de ser
    nem tens tempo
    para que libertes
    também
    .
    a esperança que nos estorva
    a nossa própria pequenez

    Autor :Beatrice
    Foto: Dorota Dziduch

    domingo, 16 de outubro de 2011

    Fulva aberta



    Como pequena
    Sarda (in)discreta...

    .
    Ou como sulco
    Do seio
    Na meta...

    Ou como boca
    Na ponta
    Do sexo adverso...


    Ou como língua
    De fogo
    Em fornalha...



    Ou como ferida
    Na saliva
    Tonta...


    Ou como coxas
    Secretas
    Libertas...


    Ou como arados
    De beijos dos dedos
    Nas costas voltadas...


    Ou como cristal
    Em flor colhido
    Rendido...


    Ou como vulcão
    Ardente ardido
    Sem til sem medo...



    Vulcânica te quero!
    .
    Autor Senador
    Foto :Jowitaa
    •  

    domingo, 9 de outubro de 2011

    a última bebida

    era tarde. tão tarde. uma última bebida, tão tarde. uma última bebida disseste.
    tão cedo - lá fora.
    fiquei a olhar-te.
    da janela vi as ondas, no mar.  além.
    uma última bebida.
    e foi a última de todas as últimas.
    tanto tempo.
    e nunca mais te vi.
    e nunca mais te senti.
    e nunca mais bebi.

    a última de todas as últimas bebidas.

    Autor : Beatrice
    Foto: janikowski

    domingo, 2 de outubro de 2011

    ....


    Despi as máscaras
    Fiquei nu,
    Deambulei calçadas...
    Tão indecoroso me notei,
    Caminhos irregulares percorri
    Dores expostas, escondidas á mostra...
    Apesar de titubeante debrucei-me no chão.
    Pouco a pouco desamamentei os medos.
    Sujei com as lágrimas das palavras, a vida.
    Num dado instante
    Não fui eu quem falou,
    Aliás, terei sido eu? Eu...?
    Depravei em farsas
    .
    Autor :  http://loucodelisboa.blogspot.com/
    Foto:The Professor

    domingo, 25 de setembro de 2011

    Intuiçoes


    Esta é a hora da paixão. Pede-me para morrer
    e morrerei.
    O amor cegou-me os olhos da razão,  por isso
    caminho alegremente para o futuro.
    Quando o amor não é contemporâneo, só
    a um, doi a despedida.

    .
    Autor : Angela Leite
    Foto: aMaja

    domingo, 18 de setembro de 2011

    Palavra inóspita

    Talvez o caos seja apenas a rosácea

    Antes do fogo que os dedos tecem no cinzel
    E a pedra a absurda permanência da forma
    Em si fechada...


    Talvez a poalha do tempo fecunde novas cidades
    E as ínfimas coisas se ordenem e expludam
    Como corolas em delírios de cristal...


    Talvez a vontade dos homens seja excesso
    E rasgue as veias das galáxias
    E o surdo rugir do mundo inunde a consciência
    Dos escravos...


    Talvez a Palavra seja inóspita
    E os hinos sejam derrocada das muralhas...
    .
    Autor : Heretico  http://relogiodependulo.blogspot.com/
    Foto: Paddinka

    domingo, 11 de setembro de 2011

    O Verão




    Estás no verão,
    num fio de repousada água, nos espelhos perdidos sobre
    a duna. 
    Estás em mim, 
    nas obscuras algas do meu nome e à beira do nome 
    pensas:
    teria sido fogo, teria sido ouro e todavia é pó,
    sepultada rosa do desejo, um homem entre as mágoas.
    És o esplendor do dia, 
    os metais incandescentes de cada dia. 
    Deitas-te no azul onde te contemplo e deitada reconheces
    o ardor das maçãs,
    as claras noções do pecado.
    Ouve a canção dos jovens amantes nas altas colinas dos
    meus anos. 
    Quando me deixas, o sol encerra as suas pérolas, os 
    rituais que previ.
    Uma colmeia explode no sonho, as palmeiras estão em
    ti e inclinam-se. 
    Bebo, na clausura das tuas fontes, uma sede antiquíssima.
    Doce e cruel é setembro.
    Dolorosamente cego, fechado sobre a tua boca.


    Autor :José Agostinho Baptista
    In Paixão e Cinzas (1992)



    Foto: The Professo

    domingo, 4 de setembro de 2011

    sonhos


    sigo um sonho – só meu
    nas cores incandescentes
    da paixão assolapada
    que dissemino 
    nas noites em branco.

    e  desmembro
    os nós que me estorvam
    os sentidos
    quando olho as cinzas diluídas
    em mim.

    Autor : BeatriceM 2011-04-09
    Foto : Vrill

    domingo, 28 de agosto de 2011

    Ao largo...e tão perto






    Chegas
    em ondas de rebentação,
    com afagos,
    afogas-me,
    no mastro erguido
    iças-te
    desnudando caminhos
    por onde as mãos
    desfazem nós
    de cabos
    que outras marés
    não dobraram
    e sem palavras
    abeiras-te da boca…

    fundeio,
    afundo-me,
    ancorado em ti.
    .
    Autor : Caminheiro http://www.calcadasentimentos.blogspot.com/
    Foto:komarek66

    domingo, 21 de agosto de 2011

    noite e margens


    Nas orlas da noite – margens em mim
    Tenho todos os segredos – em nós
    Guardo no ventre a seiva – e afogo-me
    Luxúria dos corpos - em rios
    Nas escarpas das certezas – de perigos
    E somos dois – entrelaçados
    Unos – apenas 
    .
    Autor :Beatrice
    (Nota: pode separar o poema e ler de duas maneiras)
    Foto:Stan Mare