sábado, 30 de janeiro de 2016

Por ti, amor

Anna O.Photograph


por ti, amor
me esqueço das horas
na memória dos dias
janelas sem noite
de uma redoma livre
em ti
incendeio o tempo
na chama que me sobrevive

por ti, amor
a esperança nasce derradeira
na tua pele
mais que sobre a minha

por ti, amor
me arvoro das límpidas raízes
na água das fontes
no húmus dos ventos
sulco meus caminhos
em ti
o monte onde grito
e ouço todo o eco de mim

por ti, amor
eu rio meu choro
atravesso medos nas horas que rumo
a mar maior que toda a dor do mundo

Autor : Manuel Pintor

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Flor e Espinho

Lukrecja Czerwonajcio

E vem o amor com seus rompantes
Suas ausências, seus sofrimentos
Trazendo seus zelos, suas impaciências.
E vem o amor, martelo agalopado,
Estragos irreparáveis
Com seus olhos de redenção.
E vem o amor, como se pétala,
Flor e espinho.
E vem o amor, como se desejado hóspede
De farta mesa.
E vem o amor, então.

Autor : André Rosa 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Da verdade do amor

MariamSitchinava
Da verdade do amor se meditam
relatos de viagens confissões
e sempre excede a vida
esse segredo que tanto desdém
guarda de ser dito

pouco importa em quantas derrotas
te lançou
as dores os naufrágios escondidos
com eles aprendeste a navegação
dos oceanos gelados

não se deve explicar demasiado cedo
atrás das coisas
o seu brilho cresce
sem rumor

Autor : José Tolentino Mendonça
in "Baldios"

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Quando aqui não estás

Federico Erra

Quando aqui não estás
o que nos rodeou põe-se a morrer.

Autor : Al Berto

sábado, 23 de janeiro de 2016

...

Viktor Sheleg


deixa-me ler-te
mas sem prefácio.


do teu corpo
não quero
nenhum resumo.

Autor : © João Costa . 22.janeiro.2016

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A Idade

Josephine Cardin

Falou e disse um pássaro,
dois sóis, uma pequena estrela.
Falou para que calássemos
e disse amor, penúria, brevidade.
E disse disse disse
a idade da eternidade.


Autor : Carlos Nejar
in 'O Chapéu das Estações'

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Que há para lá do sonhar

Bogna-Altman

Céu baixo, grosso, cinzento
e uma luz vaga pelo ar
chama-me ao gosto de estar
reduzido ao fermento
do que em mim a levedar
é este estranho tormento
de me estar tudo a contento,
em todo o meu pensamento
ser pensar a dormitar.

Mas que há para lá do sonhar?

Autor : Vergílio Ferreira
in 'Conta-Corrente 1'

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Saudade

anna o.photography.

Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés

Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas

Seja eu de novo tua sombra, teu desejo
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta

Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono

Autor : Mia Couto
in 'Raiz de Orvalho'

domingo, 17 de janeiro de 2016

no meu silêncio

Oleg Oprisco

No meu silêncio, muita vezes
julgo ouvir as palavras que dizias,
quando juntos deambulávamos,
pelas ruas da cidade.

São apenas palavras que retive, e sabes
sinto sempre saudades da tua voz
e as ruas, já não me falam dos sonhos
nem dos ecos, são agora ruas, apenas ruas.

BeatriceMar

sábado, 16 de janeiro de 2016

Devagar te Amo

Marcin Tyszka

Devagar te amo, e devagar assomo
os dedos à altura dos olhos, do cabelo
dos anéis de outro turno, que é só meu
por querê-lo, meu amor, como a ti mesma quero
nos tempos de passado e sem futuro.
Devagar avanço um dealbar de dias
que vida seriam - mesmo que morto, à noite,
eu voltasse amargurado mas presente,
calado e quedo, e devagar amando.

Autor: Pedro Tamen
In “Rua de Nenhures”

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Amo-te


Amo-te de um modo que me constringe,
Que me tolhe os movimentos, que sufoca
E que muitos mais dissabores me provoca
Sempre que à minha nulidade me restringe.
Amo-te por um amor que tudo infringe,
Que ao inferno me leva, do céu me desloca
E que faz com que m'atire da mais alta roca
Por algo que algum afecto por mim finge.
Amo-te, tão-só, porque não sei viver sem isso,
Sem a dor que tanto me consome e devora,
Como a que me torna rebelde e insubmisso
Por não te ter, pois se te tivesse – ah, essa hora! –
Morreria levado p’lo encanto, o feitiço
Que vivo me mantém desde que foste embora.

LC dixit
Autor : Luis Corredoura

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Voltar

Metin Demiralay

Hesitei em voltar a casa dos meus pais. Como é que eles fazem quando chove? pensei eu. Depois lembrei-me que havia um tecto no meu quarto. «Não importa!» e, desconfiado, não quis voltar.
É em vão que agora me chamam. Assobiam, assobiam na noite. Mas é em vão que utilizam o silêncio da noite para chegar até mim. É absolutamente em vão.


autor : henri michaux

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Meu amor minha caneta de tinta permanente




christine-ellger

Meu amor minha caneta de tinta permanente
minha alga no fundo do poema
aqui estou debruado num sonho
onde as palavras são de chocolate ...

Autor : António Barahona da Fonseca
Metamorfose, in «Impressões Digitais»,

domingo, 10 de janeiro de 2016

divagação

brooke shaden

dentro de mim
existe um jardim
de flores exóticas
e perfumes inconcebíveis.

mas o meu olhar
não consegue granjear
nem ouvir o canto dos pássaros
todos os dias ao acordar.

Autor:BeatriceMar

sábado, 9 de janeiro de 2016

Horário do Fim

joy jordan


morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento

Autor : Mia Couto
in"Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Amar-te,

Rosie Hardy

Amar-te, foi
não ter palavras
e sentir o silêncio
ao encontra-te.

Amar-te, é
ficar triste,
por sentires a dor
da distância
e não poder confortar-te.

Amar-te, é
compartir contigo
a felicidade ou a dor,
não pode ser aprisionar-te.

Amar-te, é
ser capaz
de morrer por ti
mas saber libertar-te.

Amar-te, é
viver um sonho
a teu lado,
e ao nascer do dia
com beijos
acordar-te.

Autor :SilvestreRaposo
In Poiesis Volume XIII
Pág 170


quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Balada para um homem na multidão

Saul Landell

Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no japão
a diferença é ele ignorar.

Muitos mortos foram necessários
para formar seus dentes um cabelo
vai movido por pés involuntários
e endoidece ser eu a percebê-lo.

Sentam-no à mesa de um café
num andaime ou sob um pinheiro
tanto faz desde que se esqueça
que é homem à espera que cresça
a árvore que dá dinheiro.

Alimentam-no do ar proibido
de um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte.

Autor : Natália Correia
in "O Vinho e a Lira"

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Desenho nos Espelhos

Saul Landell

Efémeras pétalas
dão acesso
à escarpa
erguida dos escombros

passo a passo
pelos caminhos do vento
recolho-as quando desenho
nos espelhos

pátrias amovíveis
barcos alados
que se perfilam
para hastear a mais bela
desordem
de cores no jardim

efémeras pétalas
os teus olhos remoçados
despontam à flor das águas


Autor : eufrázio filipe

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Três Coisas

Federico Erra
Não consigo entender
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo é muito comprido
A morte não tem sentido
Teu olhar me põe perdido

Não consigo medir
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo, quando é que cessa?
A morte, quando começa?
Teu olhar, quando se expressa?

Muito medo tenho
Do tempo
Da morte
De teu olhar

O tempo levanta o muro.

A morte será o escuro?

Em teu olhar me procuro.

Autor : Paulo Mendes Campos
in 'Antologia Poética'

domingo, 3 de janeiro de 2016

às vezes

 Rosie Hardy

às vezes sinto o silêncio,
não como se fosse um fardo,
mas apenas como uma companhia.

às vezes gosto do silêncio,
para melhor avivar a memória,
num poema desfragmentado no tempo.

BeatriceMar

sábado, 2 de janeiro de 2016

A tua asa

Saul Landell

Roça-me também tu com tua asa – única parte
verdadeiramente palpável de ti.

Que não seja sempre a inoportuna
asa da morte, semelhante à dos morcegos,
a roçar-se por mim.

Naquelas noites de temporal desfeito
que nada alumia nem aquece,
nem sequer a memória, que costuma ser
o que temos de mais quente e luminoso –

- nessas noites desabridas,
se a tua asa me roçasse o rosto,
recebê-la-ia como um nu recebe uma manta;
como um viandante em noite de Inverno
a quem é oferecido um canto à lareira
e uma candeia
para esconjuro das trevas e do frio.

Roça-me com ela, por favor,
ao menos uma vez e numa noite dessas.

Autor :A. M. Pires Cabral
in “RESUMO a poesia em 2011”, página 12

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Ano Novo


Feliz Ano Novo a todos os meus amigos e seguidores que ao longo do ano tiveram a gentileza de me visitarem.
Grata!