sábado, 25 de setembro de 2010

estaçao do oriente

Passeio-me na cidade grande, entre caminhos e desencontros. Aguardo o comboio que me leva (ou devolve?) sem destino, sem tempo. Só eu me encontro imóvel ( por fora?, por dentro?, não sei! parado! cego...) Espero nesta estação de comboios, de uma arquitectura estética disfuncional, que arranha os céus em teias de aço e vidro (baço). (Catedral de namorados que segredam beijos). Olho. Oro, no silencio dos caminhos e desenho, nas nuvens (e em mim) os contornos do vazio.
.
Autor : almaro j

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ninguém

Embriaguei-me num doido
desejo
E adoeci de saudade.
Caí no vago ... no indeciso
Não me encontro, não me
vejo -
Perscruto a imensidade


E fico a tactear na escuridão
Ninguém. Ninguém
Nem eu, tão pouco!

Encontro apenas
o tumultuar dum coração
aprisionado dentro do meu
peito
aos saltos como um louco.


Autor:Judith Teixeira
Foto: Sanura

sábado, 18 de setembro de 2010

solto-me...

solto-me...

do vazio das noites .onde só restam gestos inúteis.
das palavras que se foram tornando metálicas e vazias.
de afectos que se esvaziaram de conteúdo.

varro trinta anos de estilhaços...
no susto de não me reencontrar inteira.
no medo de não mais me reconhecer.

salto.
no vazio. de mãos nuas.
para me provar que saberei recomeçar.
para descobrir se re.aprendi a voar e
se encontrei o verdadeiro "sentido do voo".

Autor:simplesmenteeu http://sentidodovoo.blogspot.com/
Foto:art-dj


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

nesse tempo



nesse tempo, deus existia ainda
e tudo quanto era frágil respirava
loucamente

no bar da escola,
as bandas tocavam
para os cleptomaníacos do coração

nas traseiras do ginásio,
treinavam-se beijos à serpente
e cigarros orientais

os rapazes cresciam
com olhos prateados
e duros totens de carne

debaixo das saias das raparigas
havia flores rasgadas
e sonhos de cavalos bravos

forever young, só o vento
— e as revoluções do amor
que beijo a beijo atraiçoávamos


Autor:João de Mancelos de oficina de poesia,nr. 3 junho 2004, Coimbra

sábado, 11 de setembro de 2010

desabrochar

Madrugadas plenas de
amor que sopram pelas nossas
fantasias carentes de paz
agora quero sonhar com as flores
lindas que alegram os campos
dádivas da natureza que Deus
assim nos presenteou.
.
Simbiose de cores
odores de mil formas
flores soltas, finas
imensas pétalas a desabrochar
a alegria da minha manhã."
.
Autor : Piedade Araújo Sol 08/04/2005

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

arte poética com melancolia

Preocupam-me ainda as coisas do passado. Escrevo como se o poema fosse uma realidade, ou dele nascessem as folhas da vida, com o verde esplêndido de uma súbita primavera. Sobreponho ao mundo a linguagem; tiro palavras de dentro do que penso e do que faço, como se elas pudessem viver aí, peixes verbais no aquário do ser. É verdade que as palavras não nascem da terra, nem trazem consigo o peso da matéria; quando muito, descem ao nível dos sentimentos, bebem o mesmo sangue com que se faz viver as emoções, e servem de alimento a outros que as lêem como se, nelas, estivesse toda a verdade do mundo. Vejo-as caírem-me das mãos como areia; tento apanhar esses restos de tempo, de vida que se perdeu numa esquina de quem fomos; e vou atrás deles, entrando nesse charco de fundos movediços a que se dá o nome de memória. Será isso a poesia? É então que surges: o teu corpo, que se confunde com o das palavras que te descrevem, hesita numa das entradas do verso. Puxo-te para o átrio da estrofe; digo o teu nome com a voz baixa do medo; e apenas ouço o vento que empurra portas e janelas, sílabas e frases, por entre as imagens inúteis que me separaram de ti.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

assusta-me


assusta-me que o
ofício da luz perca os
objectos ou estas longas
paisagens. mas farto-me das
coisas que, ao mínimo
vislumbre, parecem
reais.

Autor : valter hugo mãe
Foto:Martyna Gumula http://plfoto.com/zdjecie,przyroda,zdjecie,2099931.html

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tão pouca é a vida


Tão pouca é a vida,
o deslumbrado delírio da vida.

No tear se tecem os fios, o desenho das rendas,a
renda dos dias.
Ignoro quantos,
quantas tardes no fluir da paixão, quanto ouro e
azul na idade das mãos,
que idade no tear das mães.

Foram belas também no sonho antigo,
passearam entre os lírios,
desatavam a cabeleira e os vestidos,
iam à beira mar.



Autor : José Agostinho Baptista
Morrer no Sul
Assírio & Alvim, 1981
Foto : Marta Szelewa