quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Chove.É dia de Natal


Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Autor:Fernando Pessoa

Foto:hhana

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Neste voo de escrever-te um poema


Neste voo de escrever-te um poema
um poema que falassedos rios ocultos
com cestas de astros e corais
que falasse das flautas de sol
polindo a tarde
e de picaretas de luz
que do peito à boca me ressoam


Um poema com peixes verde-prata
vindo à tona entre os juncos e as palavras
e onde os sapos surpreendidos em seus saltos
deixassem os gritos suspensos
nos cabelos das algas
com regatos de permeio


Um poema que tivesse também
um longuíssimo solo de violino
com todos os mundos que para ti inventei...
- Neste voo de escrever-te um poema
que não sei...

Autor:Victor Oliveira Mateus In "Movimento de Ninguém", Minerva, Lisboa, 1999, p 30.
Foto:Haim Zaslavsk http://plfoto.com/1967498/zdjecie.html

sábado, 12 de dezembro de 2009

...


As tuas palavras não sobem mais
os degraus da minha casa
...não as escuto
Os teus gestos fogem-me do corpo
...não mais os sinto
secam-se-me os olhos
...não te enxergo
Nas mãos conservo ainda o livro
da vida que vivemos
E me ofertaste
como despedida...
.

Autor:Helena Domingues http://orionix.blogspot.com/
Foto:mabar

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Algas

.Amar-te assim com a força da poesia
que sem querer
gravo em tudo o que faço e
souAmar-te assim ao clarear de mais um dia
em que descubro meu corpo
desnudado e
tranquilo.

Amar-te assim onde as mãos tacteiam
quais algas desavindas
perdidas nas profundezas
das águas

Amar-te...

Autor: © Piedade Araújo Sol
04/09/2005
http://olharemtonsdemaresia.blogspot.com/

Foto:glover barreto

sábado, 5 de dezembro de 2009

Há no corpo da mulher
as cordas dum violino adormecido;
Há no corpo do violino
os sonhos adormecidos duma mulher.
Quando o silêncio despe
a melancolia desafinada dos corpos,
as cordas tangem gemidos de desejo
despertando cinzas de sonos queimados
na espera de novas pautas
que escrevam melodias virgens
e despertem o repouso dos corpos.
.
Autor:PAS[Ç]SOS http://pacosdagua.blogspot.com/
Foto:Leszek