Aqui estão as minhas escolhas do que considero melhor em Poesia,Prosa Poética e Fotografia. Domingo é dia de trabalhos de minha autoria.
domingo, 30 de abril de 2017
sábado, 29 de abril de 2017
Vida
que não ser tolo decida
e venha deles primeiro
o de obediência à vida
será o segundo a vir
o de não querer ser rico
o muito passe de largo
o pouco lhe apure o bico
não violar-se a si próprio
como principal o veja
alto ou baixo gordo ou magro
assim nasceu assim seja.
Autor : Agostinho da Silva
in 'Poemas'
sexta-feira, 28 de abril de 2017
Serenata à Chuva
Laura Lee Zanghetti
Chuva, manhã cinza, guarda-chuva.
Entrar no contexto, dois pontos. Ele e ela
abraçados caminham sob o tecto
do guarda-chuva que os guarda.
Pelas ruas vão com a vontade de voltar
ao branco dos lençóis. Esse objecto prosaico
que às vezes se vira com o vento
torna-se objecto de poema. Dizer também
como a chuva é doce neste dia de verão.
Como o amor altera o sentido da chuva,
sim, como ela se eleva no ar e as frases se colam
ao vestido. No interior da pele o poema mudou
desde que entraste no guarda-chuva esquecido
a um canto do armário. Talvez o amor seja tudo amar
sem excepção. Eu que nunca uso guarda-chuva
assino incondicionalmente este poema.
Autor : Rosa Alice Branco
in 'Soletrar o Dia'quinta-feira, 27 de abril de 2017
quarta-feira, 26 de abril de 2017
Prelúdio
anastasiya valiulina
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra desce com ela.
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos
nas suas mãos apertadas...
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
tem voz de noite descendo
de mansinho pela estrada.
... Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada.
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo,
Mãe-Negra...
É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaços,
bem quieta, bem calada...
É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo
de mansinho pela estrada...
terça-feira, 25 de abril de 2017
Há nesta memória
Há nesta memória uma inóspita dor. Subterrânea.
Ou talvez uma gravidez calada.
E um rastilho aberto (ainda não fogo).
E um murmúrio de água que se deslaça do interior da pedra
Antes da fonte. E os dedos de colhê-la.
Ou a sede que se pressente
Neste arfar. E no desalinho da cidade...
Há nesta espera um novelo
Que os olhos desfiam. Gota a gota...
E há um estio bravio. E uma inquietação que lampeja.
E uma dor que se faz canto e uma centelha
Que almeja. E o fio oculto da chama.
Ou um grito.
Há talvez um dia outro - que a memória se desprenda!...
Ou uma brisa. Que incendeia. Ou um mar. E gente
Sofrida que não cala.
Há talvez alamedas. Míticas e cheias.
E flores no cântico das armas.
Que então a pedra seja chama. E as praças sejam parto.
E os corpos se incendeiem.
E a água seja cântico.
E Abril seja límpido. E claro.
E a justiça viceje no rosto do meu Povo.
E na boca dos famintos...
Autor : Manuel Veiga
...............................................
25 de Abril, Sempre!...
http://relogiodependulo.blogspot.pt/2014/04/
domingo, 23 de abril de 2017
palavras estranhas ...ou a definição do amor
há palavras estanhas…
é estranho também é o amor, e a sua definição
estranhas palavras, essas,
que não ousamos dizer, nem rejeitar
estranha estou eu…sentada entre as palavras,
por entre o desamor,
e o amor (por definir)
em palavras...
Autor : BeatriceM 2017-04-21
sábado, 22 de abril de 2017
Súplica
Rosanne Pormerleau
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Autor : Miguel Torga
sexta-feira, 21 de abril de 2017
Mirada Secreta
Natália Drepina
os amores que tive
Ou me tiveram. Partiram
Num cortejo silencioso e iluminado.
A solidão me ensina
A não acreditar na morte
Nem demais na vida: cultivo
Segredos num jardim
Onde estamos eu, os sonhos idos,
Os velhos amores e os seus recados,
E os olhos deles que ainda brilham
Como pedras de cor entre as raízes.
Autor : Lya Luft
quinta-feira, 20 de abril de 2017
...
Achraf Baznani
Autor : Miguel de Sousa Tavares
terça-feira, 18 de abril de 2017
Sono
eric zener
Dormir
mas o sonho
repassa
duma insistente dor
a lembrança
da vida
água outra vez bebida
na pobreza da noite:
e assim perdido
o sono
o olvido
bates, coração, repetes
sem querer
o dia.
Autor : Carlos de Oliveira
in 'Cantata'
in 'Cantata'
domingo, 9 de abril de 2017
mentira
quando lá fora chove
e o vento agreste, bate nas persianas.
traz com ele um ruído, que me relembra
eternamente,
tu a bater na minha porta.
eu sei que não é
mas, isso não me afasta o medo.
e sempre que isso acontece
tapo a cabeça com o lençol
e finjo que gosto de dormir assim.
fico sempre com a sensação
da minha mentira
quando digo que já está tudo olvidado
e que não gosto, nem nunca gostei de ti …
Autor : BeatriceM
sábado, 8 de abril de 2017
ser...
Omar Ortiz
quero o silêncio pelo meio
entre o que foi e há-de ser
quero um outro amanhecer
com um sorriso em teu seio
quero também sentir o vento
e me deslumbrares em marés
e se não for pedir muito, o alento
de seres aquilo que és.
Autor: LuisM Castanheira
https://barcaarmada.blogspot.pt/
sexta-feira, 7 de abril de 2017
O Poema
Jenna Martin
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Autor : Sophia de Mello Breyner Andresen
De Livro Sexto (1962)
quinta-feira, 6 de abril de 2017
Lembra-te
jenna martin
Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
Autor: Mário Cesaruny
quarta-feira, 5 de abril de 2017
Tu tens um medo
Ben Zank
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Autor : Cecília Meireles
domingo, 2 de abril de 2017
sonhar-te...ainda
Fabrizia Milia
quis ser sonho, em ti
mas, qual quimera solta
deambulando em ecos
no vento, de que apenas
suspiram ruínas
dum sonho apenas,
e só meu.
Autor : BeatriceM
sábado, 1 de abril de 2017
Garras dos Sentidos
catrin welz stein artist
Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.
São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.
Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.
São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.
Dá má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.
Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.
Autor : Agustina Bessa-Luís
Subscrever:
Mensagens (Atom)