terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Feliz Ano Novo



Mais um ano que expira e outro que se vaticina.


Desejo que nesta mudança de ano possamos, fazer um rescaldo de tudo o que o ano que finda nos trouxe de bom e agradecer a Deus pelas bênçãos arrecadadas.

Aproveito e desejo a todos os que amam a poesia, a literatura assim como a fotografia,a todos/as os que por aqui passaram ou que de alguma maneira deixaram a sua peugada o meu muito obrigada, e que o Ano Novo que agora se estreia nos traga tudo de bom.

Meus queridos amigos e leitores do Ecos de Poesia e Literatura

Feliz Ano Novo de 2020

sábado, 28 de dezembro de 2019

..


este clima de final de ano me deixa mais introvertido que o normal, 
talvez seja por causa da obrigação de ser feliz que nos é imposta por onde transitamos.

você recebe um salário extra que poderá gastar com algo que normalmente o orçamento 
não permite, têm alguns dias de descanso do trabalho, jantar em família, ruas enfeitadas 
e iluminadas para o natal, tudo e todos aparentando estar cheios de vida e bondade.
compreendo que sem o valor simbólico das coisas nada seríamos, mas é que me sinto
deslocado de tudo isso, meu paladar parece não sentir o sabor de final de ano que é 
colocado em tudo que dezembro proporciona, tudo parece tão distante e forçado, as luzes
me ofuscam os olhos, as trilhas natalinas me irritam, os foguetes me angustiam, me sinto
levado por uma enchente forte e passageira, que carrega tudo e todos, deixando a ressaca de janeiro 
no seu rastro, mas ao menos existem os chocotones, esses sim fazem o clima de final de ano
ter algum sentido na minha vida.

Autor : Kaio Bruno Di
Imagem : Ali Jardine

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

...

Tenho para mim,
que os sonhos, 
servem apenas para motivar os passos, 
que nem sempre chegam onde queremos... 
mas a algum lado chegam... 
Por isso devemos sonhar 
{sempre}
nem que seja para não ficar parados... 

Autor : Sónia M
http://soniagmicaelo.blogspot.com/
Imagem : Kindra Nikole

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Para haver Natal este natal

Para haver Natal este natal 
talvez seja preciso reaprendermos 
coisas tão simples! 
Que as mãos preocupadas 
com embrulhos 
esquecem outros gestos de amor. 
Que os votos rotineiros que trocamos 
calam conversas que nos fariam melhor. 
Que os símbolos apenas se amontoam 
e soltam uma música triste 
quando já não dizem 
aquela verdade profunda. 

Para haver Natal este natal 
talvez seja preciso recordar 
que as vidas começam e recomeçam 
e tudo isso é nascimento (logo, Natal!). 
Que as esperanças ganham sentido 
quando se tornam caminhos e passos. 
Que para lá das janelas cerradas 
há estrelas que luzem 
e há a imensidão do céu. 

Talvez nos bastem coisas afinal 
tão simples: 
o alento dos reencontros 
autênticos, 
a oração como confiança 
soletrada, 
a certeza de que Jesus nasce 
em cada ano, 
para que o nosso natal alguma vez, esta vez, 
seja Natal. 

Autor :  José Tolentino Mendonça

domingo, 22 de dezembro de 2019

sábado, 21 de dezembro de 2019

Quem Sou


Sou uma alvorada de desejos vagabundos,
deslizando no teu corpo ardente.
Sou a leveza própria das asas que voam
espreitando todos os ventos que me possam levar até ti.
Sou a sintese de todos os ecos,
o grito que calei para que outros irrompessem.
Sou a intima raíz do tempo
onde as palavras dormem docemente.
Sou a fantasia que se arrasta pelo chão,
tentando esconder esta amarga solidão.
Sou um horizonte distante,
onde as luzes se apagam, lentamente,
esperando um por-de-sol.
Sou lampejos de átomo,
atravessando luas de fogo em teus lábios ausentes.
Sou o mais doce e ardente pecado
que habita e se oculta em teus olhos de orgasmos.

Quem sou?
Sou o teu segredo de todas as horas,
uma constelação silenciosa, que explode na intimidade
da noite, quando em poesia nos damos!

Autor:Albino Santos
Imagem : Saul Landell

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A Água

É um bem que nos é oferecido
Pela Natureza,
Mas, o seu desperdício
É uma tristeza!

Muitos têm - na em abundância
Então, não lhe dão importância.
Não se importam se a poluem, 
Sempre a tiveram sem custo algum. 

Outros mal sabem que existe!
É triste,
Mas é um problema que persiste.

Com pequenos atos podemos evitar 
Estas diferenças…
Então, comecem a poupar!

Autor : Mónica Teixeira 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

estou doendo uma pena


Francisco Andíon González
Patxi Andion
Madrid - Espanha 06 de Outubro de 1947
Cubo de La Solana -Espanha 18 de Dezembro de 2019

Estou ganhando essa pena.Estou doendo uma pena.
E eu não consigo parar.
E se revira em silêncio
Túmulo aberto na solidão
E quero fazê-la cometa
Para a voar.

E não quero ceder ela
E procura por ser palavra
E é por se fazer entender
Nos braços da minha guitarra
E eu tenho que esconder.
E na minha guitarra gostaria
Deixar a pena chorar,
Fazê-la sulco no tempo
A fazer tempo no mar.

Ser com o mar um vento
Que eu possa levá-la.
Estou doendo essa pena.
Cunhada no portal.
Deste vazio sonoro.
Que não sabe para onde vai,
Desse vazio que eu choro
Por querer remediar,
E na minha guitarra gostaria
Deixar a pena chorar
Quebrar a monotonia
Desta Vila em carnaval,
Desse povo que me dói.
Cada dia mais e mais
E é que é uma imensa pena
Que eu tenho que me calar.

Está me doendo uma pena... e eu tenho que me calar.

Autor : Patxi Andión
cantor,compositor e ator

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Um Fado


Quem viu barcos 
ir ao fundo 
tem nos olhos a certeza 
aposta firme na boca 
rude descrença na reza 

Quem viu barcos trazer escravos 
munições e artifícios 
figueira brava na costa 
açoite preso no riso 

Quem viu barcos 
magoá-lo, 
ferros, lavas e palmeiras 
descrê santos e novenas, 
nega laços, destrói cercos, 
toma ventos por lareiras. 

Autor : Fátima Maldonado
Imagem: Joel Robison

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

As casas


As casas habitadas são belas 
se parecem ainda uma casa vazia 
sem a pretensão de ocupá-las 
tornam-se ténues disposições 
os sinais da nossa presença: 
um livro 
a roupa que chegou da lavandaria 
por arrumar em cima da cama 
o modo como toda a tarde a luz foi 
entregue ao seu silêncio 

Em certos dias, nem sabemos porquê 
sentimo-nos estranhamente perto 
daquelas coisas que buscamos muito 
e continuam, no entanto, perdidas 
dentro da nossa casa

Autor : José Tolentino Mendonça
Imagem : Jordi Puig

domingo, 15 de dezembro de 2019

esperança nas pontes da vida

transpus sozinha a ponte,
quando mais precisava de uma mão,

na minha aflição pensei,
que árdua seria,
sair incólume da dor

tiritava e nem sabia,
que a dor pode ser suplantada

e na velocidade da noite,
a alvorada pariu ,
o dia que me traz nesgas de luz,
alegria e odores,
que pensei ter perdido,
e sinto o meu coração, 
bater e sei que ,
tudo vai passar.
.
Autor: BeatriceMar 2013/11/10 (reeditado)
Imagem : rosie hardy

sábado, 14 de dezembro de 2019

O quarto


Quem te pôs a mão no ombro,
a faca que te atravessou o coração,
são feridas alheias, talvez algo que leste;
entretanto partiste

para lugares menos iluminados
e corações menos vulneráveis,
pode perguntar-se é o que fazes ainda aqui
se já cá não estás.

A hora havia de chegar em que
nos perderíamos um do outro.
E acabaríamos necessariamente assim,
mortos inventariando mortos.

Morrer, porém, não é fácil,
ficam sombras nem sequer as nossas,
e a nossa voz fala-nos
numa língua estrangeira.

Apaga a luz e vira-te para o outro lado
e acorda amanhã como novo,
barba impecavelmente feita,
o dia um sonho sólido onde a noite se limpa e se deita.

Autor : Manuel António Pina
, in "Como se Desenha uma Casa"

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Se eu morrer de manhã

Se eu morrer de manhã 
abre a janela devagar 
e olha com rigor o dia que não tenho. 

Não me lamentes. Eu não me entristeço: 
ter tido a morte é mais do que mereço 
se nem conheço a noite de que venho. 

Deixa entrar pela casa um pouco de ar 
e um pedaço de céu 
- o único que sei. 

Talvez um pássaro me estenda a asa 
que não saber voar 
foi sempre a minha lei. 

Não busques o meu hálito no espelho. 
Não chames o meu nome que eu não venho 
e do mistério nada te direi. 

Diz que não estou se alguém bater à porta. 
Deixa que eu faça o meu papel de morta 
pois não estar é da morte quanto sei.

Autor : Rosa Lobato Faria
imagem : Alex Stoddard 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Autor : Ferreira Gullar
Imagem : Alex Stoddard

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Defronte do Mar

Não quero mais. Não quero.
Não gosto de me sentir débil e fraca. 
Antes sozinha, que me conheço, lúcida e caustica, 
do que neste enjoo febril de desamparo, 
arrepio de agonia lenta, nó de lágrimas. 
Mais eloquente do que as palavras mudas, 
chega-se, implacável, 
- feroz inimiga da minha vontade -, 
uma verdade que se instala e toma forma crua: 
a tua necessidade de mim é nula. 
Confusa, atraiçoada e triste, 
estou como quem, por força das circunstâncias, 
resiste, mas, preferia ceder, morta por dentro. 

Sob o doce véu da fantasia, a visão parecia tão real! 
Afinal, foi tudo ilusão, um sonho avulso, o perfeito engano, 
outra mentira nascida nas profundezas negras 
da minha Solidão de ser, mais uma vaidade minha, 
uma coisa solta, por aí, sem raiz nem paradeiro. 
E, neste pesar, vim vê-lo. 
Vim ver o mar-testemunha. 
Trago a desculpa que me sustenta, 
vim saber o que é feito da promessa 
e da ternura que ficou naquele instante, 
estanque e desperto, 
que tão depressa perdi. 
Vim à tua procura, 
confirmar a suspeita de ser vazio no teu peito. 
Vim ouvi-lo respirar, de novo e no mesmo lugar, 
imenso e indiferente à dor que sinto. 
Vim à minha procura nele 
para me perder de ti, 
que já não sei quem sou, neste fogo sem eco. 
Vim vê-lo de muito perto, firme, forte, verde. 
Liguei-o a nós, se calhar, sem razão, 
porque ele é para sempre, continua. 
Nós é que não. 

Autor : Margarida Faro
in 44 POEMAS (Fonte de Palavra, 2011)
Imagem : Joan Carrol

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O funcionário cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
e as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só. 

Autor : António Ramos Rosa
Imagem : Mikael Aldo

domingo, 8 de dezembro de 2019

Rimas


Aprendi a rimar amar 
com mar. 

depois amor rimava 
com calor .

mais tarde descobri que amor 
também rimava com desamor. 

para logo descobrir que amor, 
rimava com dor. 

era só rima, só rima, mas 
achei mais inteligível não rimar. 

agora (para mim)amor não tem rima, 
e só me lembra saudade.

Autor : BeatriceM 2019-12-07 
Imagem : Alex Stoddard

sábado, 7 de dezembro de 2019

...


Deixamos de saber quem somos sempre que nos dominam, sempre que temos de aceitar como bons valores estranhos. Aconteceu comigo
quando, acolhido por tanto mar, tão poderoso e diferente me aninhei adormecido nos seus braços. Saber do que fui é memória que não vai perdurar. Começo a ter tiques de mar e sinto, agora, a minha voz mais grossa.

Autor : EDGARDO XAVIR, 
in LOENGO (Modocromia, 2018)
[MEMÓRIAS DE UM RIO[excerto]
Imagem : Alexs Toddard

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Segredo

Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço

com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço.

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar

Autor : Maria Teresa Horta
Imagem : Marius Markowski

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Lunalva

e quiserem saber quem sou

- Não sei quem sou
Só sei que em mim
A sombra e a luz
São vultos
Que se buscam e se amam
Loucamente

Se quiserem saber do meu destino

- Não sei do meu destino
- Não sei do meu nome
Só sei daquela sede
Imensa sede
Que ainda não foi saciada

Se quiserem saber donde venho

- Não sei donde venho
Talvez venha do vento
Do deserto
Do mar
Ou do fundo das madrugadas

Não

Não me amem tão depressa
"Não me compreendam tão depressa"
Não me julguem tão fácil
Por favor
Não me julguem tão mesquinho
Tão cotidiano

O pão que trago comigo

- Não é pão
É fogo
O vinho que trago comigo
- Não é vinho
É sangue
E eu vos afirmo
- Todos hão de beber
Do Fogo e do Sangue

Autor :Carlos Nejar
imagem : Hossein Zare

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Punhados de Palavras


Tenho sempre medo que me faltem punhados de
palavras para te falar de amor, esse sentimento que
se demora no peito. E olho para ti, sei depois que o
silêncio onde se guardam as palavras é sempre a página

que lês nos meus olhos e fico-me – despida de tudo e o tudo
é agora a pele, a capa do livro que tu conheces de cor e afagas,
e folheias ao encontro de mim.

Autor-Carla Pais

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

....



Eu penso em ti, ainda mais do que te digo, e tu estás em tudo, mesmo quando não te penso, tu és a grande razão, o horizonte sem nome que constantemente se desenha na minha imaginação de mim.

Autor : António Mega Ferreira
Imagem : Hossein Zare

domingo, 1 de dezembro de 2019

Paixão

Sinto ainda o sol que me afogueou
o corpo, quando o teu olhar
me despiu.
E surpreendentemente,
todas as palavras,
foram dispensáveis.
Sinto ainda a detonação,
explodindo em estilhaços
de fogo, cores e paixao.
 .
Autor : BeatriceMar 01-12-2013
Imagem : Victor Bauer

sábado, 30 de novembro de 2019

Intimidade


No coração da mina mais secreta, 
No interior do fruto mais distante, 
Na vibração da nota mais discreta, 
No búzio mais convolto e ressoante, 

Na camada mais densa da pintura, 
Na veia que no corpo mais nos sonde, 
Na palavra que diga mais brandura, 
Na raiz que mais desce, mais esconde, 

No silêncio mais fundo desta pausa, 
Em que a vida se fez perenidade, 
Procuro a tua mão, decifro a causa 
De querer e não crer, final, intimidade. 

Autor : José Saramago
Imagem : Katharina Jung

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

vejo brilhar uma estrela que,

vejo brilhar uma estrela que,
pelos vistos, já morreu – assim a
minha vida: luminosa e, porém,
assombrada pela escuridão. Sorte a 

daqueles que só conhecem a morte
pelas mãos frias – toda a vida fiz luto
por corpos ainda sãos. A felicidade 

faz-me, apesar de tudo, infeliz –
é sempre a ideia do fim que traz
a música certa para os meus versos. 

Autor : Maria do Rosário Pedreira
in “Poesia Reunida”, 2ª. edição, Quetzal Editores, Lisboa, 2013
Imagem : Joel Robison