terça-feira, 31 de outubro de 2023

Olha-me agora



Olha-me agora, que me tens vencido
e sou nas tuas mãos pobre veludo,
de pele morta e rota mal vestido
e, de sábio que sou, já tartamudo.

Fala-me agora, que não tenho boca.
e sou na tua pele mero ouvido,
diz-me palavras soltas sem sentido
ou pede-me por graça o consentido.

Olha-me só para que veja como
tão claro e fundo olhar me tem mantido
na solidão sem nome deste pranto;

ou escreve em mim com hálito de lume
para que seja eu a enrodilhada chama
que se esquece de si e sonha o fumo.

Autor : António Franco Alexandre
Imagem : Ruslan Bolgov

1 comentário:

brancas nuvens negras disse...

Um poema que é um pedido de atenção.
Boa Noite. Um abraço.