sábado, 14 de outubro de 2023

Sobre as Areias

Um mar de nada, luzindo turquesa em eterna canção. Duas sombras, tão gémeas do céu ou do vento, sobre o espelho fulgente de areias em decrescente ebulição trilham um caminho sem fim. Vestígio após vestígio, garça alguma neles lerá a denúncia do rumo traçado no sal do instante.

Um perfume de nardo imiscuído em sândalo e canela de cetim, um polvilho salgado sobre a maior frescura do sopro poente. Os olhos anseiam evaporar-se num incêndio de luz, mas querer é demasiado quando tudo é o perfeito acorde do vazio. Por isso cintila, tão magnífica e pura, a solidão do voo duma gaivota, a rocha aberta ao eterno movimento da onda que aceita a sua morte.

O teu toque, explosão solar de giesta fora de estação, lembra no seu súbito arrepio a carne doída do desejo voraz.

Autor : Pedro Belo Clara

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