sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Dor



Não há forma de abrir o peito e reparar o coração.
Podes rasgar a carne, limpar e repor as artérias certas
no seu lugar, consertar o rasgo, suturar a pele. Mas o
peito ficou por abrir e não há bisturi que o perfure.

O corpo é um lugar que podes adormecer para
dissecar. Mas o peito não. O peito é uma pedra dura
que nada mais recebe em si que os resíduos de vida
que se lhe assimilam por aglutinação natural da dor.

E não há diafragma que to separe do resto de ti.

Autor : Virgínia do Carmo
in Relevos(Poética Edições, 2014)
Imagem : Korinne Bisig

1 comentário:

brancas nuvens negras disse...

O título é a palavra que melhor define o poema.