quarta-feira, 24 de junho de 2020

Todos os que não sou

Todos os que não sou
escolhem a camisa singular
de olhos fechados.
Trago no bolso dois poemas
e o desejo de toda a gente,
sou um discreto herdeiro
das relíquias que recolho de mesas de café
e em degraus de rua meio desfeitos.

Depois de me descalçar,
arranquei o arame tenso que vos ligava.
Do vértice tento avistar as caras,
queria ser eu e outro,
mas sei que não tenho valor de troca.
Se pensas vestir-me
debaixo do teu casaco
desapareces comigo. 

Autor : Margarida Ferra
Imagem: Brian Oldham

1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Foto/poema a conjugação poética perfeita. Maravilhoso de ver e ler.
.
Saudações amigas